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sábado, 15 de agosto de 2009

Homenagem ao nosso incalto presidente do Senado da República, José Sarney...

Gregório de Matos

Soneto
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazio a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Reflexão não mata...


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos.
Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

SOBRE A HISTÓRIA DE Campina Grande - TURMAS DO PADRÃO

Campina linda e grande (Parte I)
Damião de Lima

Estava findando o ano de 1687 quando o apresador de índios Teodósio de Oliveira Ledo de posse de uma leva de índios que tinham sido aprisionados na região, hoje denominada de sertão paraibano, resolve não levá-los à capital da província e aldeá-los em uma grande Campina no topo da Serra da Borborema. No ano seguinte, um franciscano inicia a obra de catequização desses indígenas e, assim, começa a história da Rainha da Borborema. Localizado em posição geográfica privilegiada, o aldeamento evolui, em 1769, alcança a categoria de freguesia e vinte e um anos depois é elevada à categoria de vila, sendo denominada de Vila Nova da Rainha. A vila cresce e ganha destaque por seus ranchos, tornando-se ponto de encontro e de descanso de tropeiros, vindo das diversas localidades da província. Com o aumento do número de tropeiros e do tráfego entre eles, a vila torna-se, naturalmente, um entreposto comercial e aos poucos forma-se uma feira. As feiras sempre foram e continuam sendo, em algumas cidades do Nordeste, o principal fator de dinamização econômica, além de espaço de discussão política e elemento difusor de idéias e ideologia. Durante séculos, era nas feiras onde se tomava pé das novidades e das decisões do governo local ou mesmo da corte, sendo assim, era nas feiras, também, onde se iniciavam as revoltas e rebeliões contra essa ou aquela medida governamental. Os movimentos sociais no Nordeste sempre tiveram seus ideais difundidos durante as feiras e, em alguns, deles os contendores aproveitaram o dia da feira para expressar o seu descontentamento chegando, em alguns casos, às vias de fato. Durante o império, dois fortes movimentos ocorridos na região Norte, hoje conhecida como Nordeste, tiveram presença marcante da população de Campina Grande. Trata-se do movimento conhecido como Ronco da Abelha ou Zumbido do Maribondoe o movimento de Quebra Quilos. São registradas, também, conspirações e participação de pessoas da Vila Nova da Rainha em outros dois importantes movimentos ocorridos na região Nordeste, na Revolução Pernambucana de 1817 e na Revolta Praieira de 1848. Ainda durante o Império, através da Lei Provincial Nº 137 de 11/10/1864, Campina Grande alcança a condição de cidade. Com o passar dos anos, o município vai ganhando importância, e cresce o movimento de tropeiros de diversas regiões da província, bem como, de outras províncias da região, atraídos pela já afamada feira de Campina Grande. O incremento da economia levou ao estabelecimento de comércio fixo e, conseqüentemente, a maior urbanização. Mesmo tendo o comércio do algodão como carro chefe, com o crescimento da cidade, outras atividades comerciais vão aparecendo e se fixando, com isso o comércio torna-se mais diversificado, aumentando sempre o número de tropas de burros carregadas de mercadorias. No início do século passado aumenta, ainda mais, a importância do município de Campina Grande no cenário nordestino. A chegada da estrada de ferro, em 1907, dinamiza as atividades mercantis, tornando a cidade o grande ponto de confluência do Estado, sobrepujando, em termos econômicos, outros centros comerciais e urbanos que vinham tendo destaque no Estado. Durante os primeiros anos do século passado, a cidade continua a crescer e chega aos anos 20 com considerável número de moradias e habitantes para a época, os símbolos do progresso e as novidades lançadas em nível nacional não tardavam a chegar à cidade. O ano de 1920 pode ser considerado um marco neste sentido. Nesse ano, foram instalados pelo Professor Clementino Procópio, diversos telefones de veio e, em 29 de setembro de 1920 tem início o serviço de fornecimento de energia elétrica, sendo assim, inaugurada a iluminação pública das principais ruas com energia gerada por motores a óleo diesel. Para explorar o sistema de energia elétrica, foi constituída a firma J. Brito & CIA, transformada alguns anos depois, na S. A. Empresa de Luz e Força, que administrou o sistema de distribuição de energia elétrica até 1944. Durante a primeira metade do século passado, a cidade de Campina Grande ganha novos contornos e embeleza-se atraindo vultosos investimentos, bem como uma leva de novos habitantes que migram das mais diversas regiões do Estado e também dos Estados circunvizinhos, vinculados ao comércio campinense. Assim como os investimentos, estes novos imigrantes vêm em busca de novas oportunidades e a cidade responde, tornando-se maior e mais próspera, respondendo aos anseios dos que procuram da educação à diversão. Durante os anos 30, o discurso da era Vargas preconizava que era necessário criar parques industriais modernos e as cidades, além da urbanização, tinham que oferecer conforto para os seus habitantes. Nesse período, afinadas com esse discurso, as autoridades campinenses moldavam à cidade dentro desses padrões, Campina Grande mantém o seu ímpeto de crescimento e os investimentos continuam a ser feitos em todos os setores. Em 1937, antes mesmo da radicalização de Vargas com a implantação da política do “Estado Novo”, Campina sai na frente e toma medidas no sentido de modernizar-se para atrair novos investimentos e dar mais conforto aos seus habitantes. Nesse ano, 1937, foram implantados diversos novos serviços na cidade tais como: a) o assentamento do primeiro serviço de água e esgotos; b) início da construção do açude de Vaca Brava para abastecer a cidade e; c) inauguração do serviço de telefones automáticos. Em janeiro de 1938 foi criada a Repartição de Saneamento de Campina Grande, subordinada ao Estado e iniciou-se o serviço de água e esgotos com sete chafarizes e cerca de trinta instalações sanitárias em domicílios. No final dos anos 30, a cidade respirava desenvolvimento. No início dos anos 40, mesmo sob a ditadura do Estado Novo, a cidade vive em franca efervescência devido ao clima da II Guerra Mundial. O município de Campina Grande se vê envolvido por este clima de guerra nos mais variados aspectos. Antes mesmo de o Brasil declarar guerra aos países do eixo, é grande a mobilização de tropas das diversas armas na cidade. Em 1941, instala-se em Campina Grande uma guarnição federal, o 1º Grupo de Obuses, com 03 baterias e defesa antiaérea. O ano de 1942 é marcado, na cidade, por muita mobilização de tropas, bem como, por manifestações relacionadas à guerra. Nesse ano, foi inaugurado um novo quartel e instalado o 22º Batalhão de Cavalaria; iniciada a construção do aeroporto do Ministério da Aeronáutica; instalado o quartel general da 7ª Divisão de Artilharia Divisionária do Nordeste, só extinta em janeiro de 1944, e instalado o 40º Batalhão de Cavalaria. Ocorre também, nesse ano, a primeira experiência de defesa passiva Antiaérea, conhecida como black-out. Esse clima de beligerância chega até à população. Durante os três anos de participação do Brasil na guerra intensifica-se, ainda mais, a movimentação de tropas na cidade. Nesse período, foi construído o quartel do Exército ainda hoje funcionando no atual bairro da Palmeira. Aquartelou-se na cidade, vindo do Rio, o 3º Grupo do 5º Regimento de Artilharia de Divisão de Cavalaria, que ficou na cidade por três meses, de março a junho 1944; foi instalado um destacamento de Serviço Geográfico do Exército que ficou na cidade por um ano e foram instalados mais dois Batalhões de Cavalaria, o 30º e o 31º BC. Porém, a cidade não era apenas guerra. Todos os outros setores continuavam funcionando e em alguns casos até com muita efervescência como é o caso da economia que sofre com o desabastecimento de produtos mais ganha com a exportação de minérios. Em 1942, havia sido instalada na cidade, pelo Ministério da Agricultura, a sede da Divisão do Fomento Mineral (Distrito do Nordeste), que montou o laboratório de produção mineral para análise de minérios. A partir da ação deste órgão e com a entrada do Brasil na guerra, a cidade torna-se grande exportadora de minerais estratégicos. Os minérios, principalmente a tantalita, o berílio, e a xilita, são beneficiados na cidade e exportados para os países produtores de materiais bélicos durante toda a segunda guerra mundial. Durante a guerra, a cidade também ganha novos caminhos por onde escoar seus produtos. Em 1943, teve início os trabalhos da Ferrovia, ligando Campina Grande ao Sertão paraibano com a obra até a cidade de Patos e foi concluída a rodovia ligando Campina Grande a Monteiro, obra que dinamizou o comércio entre o município de Campina Grande e a região dos Cariris Velhos. No campo social, a cidade também evolui bastante com a criação de espaços de lazer, integração social e cultural. Em 1941 foi organizada, por diversos intelectuais conterrâneos e presidida pelo poeta Murilo Buarque, a Academia dos Simples, que realizou, durante dois anos, diversas sessões literárias e foi fundada a Sociedade Médica de Campina Grande. No ano de 1942, a cidade elegeu a primeira diretoria da subsecção da Ordem dos Advogados; foram computados no município nada menos que 24 advogados. Havia também a preocupação com a infância e, neste ano, funda-se uma associação com este objetivo, trata-se da Associação de Proteção e Assistência à Infância. Nesse mesmo ano, ocorre um acontecimento de gala na cidade quando é inaugurado o maior e mais luxuoso hotel do Estado, construído em majestoso edifício de cinco pavimentos, localizado entre as ruas Floriano Peixoto e Maciel Pinheiro. Com o fim da guerra, o município, assim como todo o país, respira liberdade e já em 17 de março de 1945 é inaugurado o cassino do Grande Hotel, onde além dos jogos, travam-se as grandes discussões políticas sobre o destino político do município, do Estado e do País. Na Paraíba cria-se, a espelho do quadro nacional, cinco partidos políticos: a União Democrática Nacional tendo à frente José Américo de Almeida e Argemiro de Figueiredo; o Partido Social Democrático com Rui Carneiro, Severino Procópio e José Joffily; o Partido Popular Progressista com Epitácio Pessoa Cavalcanti e Antônio Pereira de Almeida; o Partido Democrata Cristão com Leopoldino Miranda Freire e Cipriano Galvão da Trindade e o Partido Comunista Brasileiro com João Santa Cruz e Cláudio Agra Porto. Todos com diretório em Campina Grande. A mudança na política econômica nacional no pós-guerra influenciará, novamente, o desenvolvimento local. Com a derrubada de Getúlio Vargas e a ascensão ao poder de Eurico Gaspar Dutra que promove a abertura do país às importações, o comércio, que sempre foi o ponto forte da economia de Campina Grande ganha impulso e a cidade cresce a passos largos, atraindo novos investimentos e novas indústrias. Vive-se, na cidade, a euforia política e econômica do pós-guerra. Durante o ano de 1946, começam a operar na cidade quatro agências de postagem e duas rádios, a Cariri e a Borborema, começa a circular um jornal diário intitulado A Voz do Dia e é inaugurada uma grande sala de projeção de filmes, o Cine Avenida. Nesse mesmo ano, a cidade conta com quatro representantes na Assembléia Constituinte sendo um Senador: Vergniaud Wanderley e três deputados: Argemiro de Figueiredo, Plínio Lemos e José Joffily Bezerra, sendo o Senador e os dois primeiros deputados eleitos pela UDN e o último, eleito pelo PSD. No ano seguinte, 1947, nada menos que quatro companhias aéreas iniciam seus trabalhos na cidade; a viação aérea Baiana (VAB); a Rede Aérea Nordestina (RAN); as Linhas Aéreas Brasileiras (LAB) e; as Linhas Aéreas Paulista. As duas últimas com vôos para Rio de Janeiro e São Paulo. O que se pode observar é que o fim da guerra acelerou o processo de desenvolvimento da cidade, tornando-a a mais importante cidade do interior do Nordeste. No final dos anos 40, dois importantes acontecimentos irão destacar ainda mais o município no âmbito regional, trata-se da inauguração de dois grandes depósitos da Standard Oil Company para abastecimento de todo o interior do Nordeste e da implantação na cidade, em 1949, da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba. Campina Grande é a única cidade, não capital, a sediar a Federação das Indústrias. Todo este desenvolvimento lhe rendeu a alcunha de “Capital do Trabalho” e “Rainha da Borborema”. Como pode ser visto, Campina Grande, desde a sua fundação, conseguiu se inserir em todas as mudanças econômicas vivenciadas pelo Brasil desde o final do século XIX. A título de resumo pode-se citar: o crescimento econômico vivenciado pelo município com o advento da estrada de ferro durante a República Velha; a implantação da indústria de beneficiamento do sisal o do algodão no final dos anos 30, início dos anos 40, reproduzindo, na região, a política econômica defendida nacionalmente pelo governo de Getúlio Vargas; a exportação de minérios para a indústria bélica durante a segunda guerra mundial que colocou o município em sintonia não apenas com a política nacional mas com a política global; e a retomada em grande estilo do comércio varejista de produtos regionais, nacionais e, principalmente, produtos importados de outros países durante a abertura liberal do governo Dutra. É com esse ímpeto que a cidade entra nos anos 50.
Campina linda e grande (Parte II)
Damião de Lima

Ao entrar nos anos 50, o município era o mais dinâmico do Estado da Paraíba e adquiria importância significativa no cenário regional. Claro que tínhamos na região Nordeste outros centros mais desenvolvidos que Campina Grande, no entanto, se tomarmos o desenvolvimento vivenciado por Campina Grande e compararmos com a situação global da região Nordeste, a conclusão a que chegaremos é que a cidade de Campina Grande era um dos oásis no deserto do subdesenvolvimento a que a região estava submetida. As políticas implementadas na região eram, geralmente, ineficazes e atrasadas. Essa realidade global do Nordeste não se refletia em Campina Grande, ao contrário, ao entrar nos anos 50 o município já se destacava como um centro industrial em franca ascensão e continua nesse ritmo durante toda a década de 50, superando a capital do Estado, João Pessoa, em número de operários e de estabelecimentos industriais. Na década de 50, o crescimento industrial de Campina Grande é considerável. Entre 1950/54 o município contribui com 1/3 da arrecadação do Estado, sendo assim dividido: 1950 33%, 1951 38%, 1952 25%, 1953 26%, 1954 32% - apesar de terem ocorrido secas em 1952/53 -, e ser nestes dois anos que se inicia a crise no mercado internacional do agave e do algodão. É importante destacar também o peso político do município, em 1954, Campina Grande constituía-se no maior núcleo eleitoral do Estado, com 55.774 votantes, enquanto João Pessoa contava com 25.575 eleitores. Em 1955, a cidade já contava com 71 estabelecimentos com mais de 05 operários, totalizando nestes estabelecimentos 1.970 operários. Destacava-se a indústria têxtil com 08 estabelecimentos, 693 operários e 45% do valor total da produção, tendo como principal sub-ramo o beneficiamento do algodão e fabricação de redes, sacos, redes de fios, etc. A eleição do Presidente Juscelino Kubitscheck e a sua política desenvolvimentista terão no município grande repercussão. As lideranças políticas, vinculadas ao comércio e, principalmente, ao setor bancário e industrial, que vinham atuando de forma acanhada, passam a ganhar destaque e a exigir que as medidas implementadas nacionalmente fossem estendidas para o âmbito regional e local. Esta euforia não é apenas da cidade de Campina Grande. Durante o governo Juscelino, ocorre através da política desenvolvimentista grande crescimento das cidades, com o slogan prometendo crescimento acelerado, cria-se uma euforia nacional. Como esse crescimento concentrava-se no Centro-Sul, o êxodo rural para essa região alcançou níveis alarmantes. Milhares de imigrantes das mais diversas regiões partiram em busca da região com maior índice de desenvolvimento, gerando o crescimento desordenado nos grandes centros urbanos dessa região. Porém, é preciso destacar que nem todos os imigrantes que abandonavam o campo ou as pequenas cidades do interior se dirigiam para o Centro Sul. Até pelo apego a terra natal tão decantada em verso e prosa pelos poetas nordestinos, era comum, antes de partirem para o distante Sul, esses imigrantes tentarem a sorte nas cidades maiores dentro da própria região. Ou seja, muitos desses imigrantes “optavam” por cidades onde houvesse alguma chance de conseguir emprego e, Campina Grande, sendo a cidade do Estado que apresentava maior ascensão econômica, torna-se pólo de atração para as pessoas que deixam o campo fugindo da seca ou deixam as cidades de menor porte onde as chances de emprego e de melhoria de vida são ínfimas. Outro destaque na questão do êxodo rural é que, a mão de obra com alguma qualificação era aproveitada nas cidades onde existiam oportunidades de emprego, como é o caso de Campina Grande. O êxodo em direção ao Centro Sul era, em sua grande maioria, de pessoas sem nenhuma qualificação profissional. Segundo dados da Delegacia de Polícia de Campina Grande, que realizou o controle nos veículos que trafegavam para o Sul, de 02 de fevereiro a 18 de dezembro de 1956, nada menos que 5.612 homens válidos embarcaram para o Sudeste. Destes 4.772 eram homens entre 20 e 26 anos, sendo 4.315 agricultores e 457 sem profissão. Com o aceleramento do processo de industrialização e urbanização dos anos 50, o país ganha nova configuração. Essas mudanças no campo econômico e demográfico contagiam toda a estrutura social. O crescimento acelerado empolgou o país, mesmo nas regiões periféricas onde os efeitos desse crescimento eram mínimos. A discussão dos efeitos multiplicadores e a possibilidade desse desenvolvimento rápido chegar a essas regiões empolgavam intelectuais e políticos. Essa empolgação era maior onde a possibilidade real de se vincular à política proposta pelo governo central era mais presente, ou seja, em cidades cuja indústria já vinha se destacando como forte atividade econômica e era esta possibilidade que embalava os sonhos das lideranças campinenses, vinculadas ao capital financeiro e a indústria. A discussão em torno da inserção da região Nordeste e, em particular, de Campina Grande no desenvolvimentismo Juscelinista era a ordem do dia na Rainha da Borborema. O setor empresarial da cidade organiza-se e busca novos aliados com o objetivo de pressionar as autoridades federais para que fossem propostas mudanças na forma e no conteúdo da intervenção estatal na região. Cobrava-se, já no início do governo Kubitscheck, que a política desenvolvimentista pautada no uso de novas tecnologias e tendo como ponto forte a industrialização, fosse estendida para o Estado da Paraíba. Essa discussão sobre o desenvolvimentismo trouxe à tona um ponto nevrálgico da política de crescimento acelerado, proposto pelo presidente Juscelino no seu plano de metas, trata-se dos desequilíbrios ou desigualdades regionais. Esse problema é secular, desde a colonização do Brasil nunca foi possível uniformizar-se o desenvolvimento. Tivemos sempre o crescimento, localizando-se em determinada área ou região enquanto outras regiões estavam estagnadas ou em profunda crise econômica. No entanto, a partir de meados dos anos 50, com a eleição de Juscelino Kubitscheck e seu projeto de desenvolver cinqüenta anos em cinco, essas disparidades tornam-se mais visíveis. Era latente o forte crescimento da região Centro-Sul, encabeçada por São Paulo e se espalhando para o Rio de Janeiro e Minas Gerais em detrimento de outras regiões que permaneciam estagnadas ou apresentavam desenvolvimento muito inferior a estas regiões priorizadas no projeto governamental. Com isso, a discussão acerca das desigualdades entre as regiões entra em pauta e ganha terreno na região Nordeste. Durante essa discussão, os ânimos se acirram e alguns fatores servem de estopim para o acaloramento da discussão. Entre estes fatores está a seca, e as ligas camponesas. A seca, problema recorrente no Nordeste volta a assolar a região no exato momento em que o plano de metas começa a ser executado e o aparecimento das primeiras Ligas Camponesas em 1956, colocou um novo elemento no cenário político nacional: o camponês nordestino. A conjugação de seca, ebulição social no campo e os inflamados discursos contra as desigualdades regionais passam a ser vistos, pela grande burguesia nacional, como ameaça mais que potencial à sua hegemonia. Enquanto o Centro Sul estava em plena euforia com o Plano de Metas do governo Juscelino, no Nordeste o clima era de revolta. Obviamente, que tanto as oligarquias rurais nordestinas, como a burguesia do Centro Sul irão cobrar do governo, medidas no sentido de resolver estes problemas. Apesar das diferenças com relação a seus objetivos, as oligarquias locais e a burguesia do Sudeste irão se unir no sentido de pressionar o governo. Foram muitos os debates e os seminários organizados na região com objetivo de encontrar soluções capazes de reverter o quadro de atraso econômico, político e social e diminuir as disparidades entre o Centro Sul em desenvolvimento e o Nordeste em crise. Porém, o marco inicial da mudança na política econômica adotada para a região foi, sem dúvida, o I Encontro dos Bispos do Nordeste, ocorrido na cidade de Campina Grande em 1956. Participaram desse encontro o Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Helder Câmara, que dirigiu os trabalhos, e mais 19 prelados, representando a igreja católica, representantes das Federações das Indústrias de todos os Estados, Ministros de Estado, intelectuais de renome como Celso Furtado, Aluízio Campos, Souza Barros, entre outros, além das lideranças políticas e empresariais da região. No encerramento do encontro esteve presente o Presidente da República, Juscelino Kubitschek. O Encontro tratou eminentemente de política econômica. As análises apresentadas pelos especialistas que a ele compareceram, mostram a tônica da discussão ali travada. Um dos destaques deste Encontro foi a análise da situação econômica da região feita pelo representante do Banco do Nordeste, Aluízio Affonso Campos, que sem dúvida serviu de inspiração ao grupo de trabalho, nomeado pelo Presidente, e encarregado de apontar soluções para a região. No encerramento do encontro foi apresentado o diagnóstico da situação regional. Com base nesse diagnóstico foi criado o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). O GTDN, no seu principal documento, propõe mudanças econômicas, políticas e sociais para toda a região. Estas transformações atingiriam as principais atividades econômicas da região, desde a tradicional área do açúcar, passando pela agricultura de subsistência até a pecuária. É preciso destacar que a ênfase maior do documento estava na expansão do setor industrial. Os primeiros estudos do GTDN mostram que, entre 1948 e 1956 a produção industrial do Nordeste cresceu 50%, tendo crescimento anual de 5,2%. Porém, a participação no produto industrial do país baixou de 11% para 9%, já que o Centro-Sul crescia a uma taxa de 7,7%. Além disso, a imensa concentração de renda e o fraquíssimo mercado interno tornava a região incapaz de engendrar uma industrialização de maior alcance regional. Por outro lado, as medidas de proteção à indústria do Centro-Sul, via aumento das tarifas, subordinavam as regiões periféricas internas. Era preciso dinamizar o setor industrial na região Nordeste, aproveitando a base industrial já existente e utilizando a abundância de matéria prima da região que era utilizada, em sua grande maioria, pela indústria do Centro Sul do país. Outro fator fundamental para a implementação de um projeto de desenvolvimento era a mão-de-obra disponível. O Projeto de desenvolvimento proposto pelo GTDN tinha três objetivos básicos: 1) fixar na região, capitais formados em outras atividades econômicas que, eventualmente, tendiam a emigrar para outras regiões, principalmente para a região Sudeste; 2) dar emprego a grande massa populacional flutuante existente na região; e 3) criar nova classe dirigente imbuída do espírito de desenvolvimento. Campina Grande colocava-se como “laboratório ideal” para aplicação e verificação da eficácia dessa política, pois, dispunha embrionariamente de todos os elementos propostos nos GTDN.

Campina linda e grande (Parte III)
Damião de Lima

Ao adotar a fixação de capitais formados na região, o GTDN só reforça a política que já vinha sendo implantada em Campina Grande. Na cidade à época dos estudos em questão, a maioria das indústrias de transformação, representada pelas fábricas de artefatos de couro, sabão, sacaria, massas, instrumentos agrícolas, papel, calçados e outras tinham características que se assemelhavam ao tipo de indústria que o GTDN defendia para a região, além de já dispor de mercado dentro da região, algumas delas conseguindo competir no mercado regional, caso das indústrias de sacos, instrumentos agrícolas, artefatos de couro e papel e o capital investido nestas fábricas era oriundo da própria cidade, ou das cidades circunvizinhas como Cajazeiras, Guarabira, Patos ou até mesmo Recife. Outro fator que é necessário destacar é que essas indústrias ocupavam muita mão de obra. Dessa forma, dois dos objetivos do GTDN estavam sendo atendidos. O terceiro objetivo proposto pelo GTDN era criar nova classe dirigente imbuída do espírito de desenvolvimento. Nesse sentido, Campina Grande é privilegiada, pois, desde o início dos anos 50 que começa a se destacar na cidade um grupo de empresários e de intelectuais defensores da industrialização como forma de superar os problemas vivenciados pela cidade e pela região. Antes mesmo da instalação do GTDN, fora criado em Campina Grande o movimento Pró-Execução das Deliberações do Encontro dos Bispos do Nordeste, a comissão executiva, do citado movimento, era composta pelo Bispo Diocesano, D. Otávio Aguiar, o presidente da Associação Comercial, Francisco Alves Pereira, o presidente da Câmara de Vereadores, Manuel Figueiredo e o superintendente das Emissoras Paraibanas, João Albuquerque. Com a ampliação da discussão, o movimento ganhou novos adeptos o que o levou, paulatinamente, a adentrar no campo político. Em 1957 o grupo já tinha composição bastante heterogênea, participavam dele comerciantes, industriais, membros do clero, banqueiros e intelectuais das mais diversas matizes políticas e ideológicas. Os pontos de convergências, entre eles, era a defesa da educação e da industrialização como solução para o desenvolvimento do município e da região. Nesse grupo, algumas pessoas se destacavam, entre elas, os economistas Edvaldo de Sousa do Ó e Aluísio Affonso Campos, o jornalista Lopes de Andrade, o Comerciante José Epaminondas Braga, a assistente social Luiza Erundina e o banqueiro Newton Rique. As discussões ocorridas no Encontro dos Bispos do Nordeste e dentro do GTDN fortalecem, ainda mais o grupo, tanto do ponto de vista político, quanto na clareza dos problemas enfrentados pela região. A industrialização, como possível solução para os problemas da região e do município, ganha contornos mais definidos transubstanciando-se, a partir de meados dos anos 50, de simples aspiração de um pequeno grupo em projeto político e econômico a ser defendido por vários setores da sociedade campinense. A euforia do desenvolvimentismo contagia, também, as autoridades estaduais, durante o governo de Flávio Ribeiro Coutinho (1956/58), o Estado da Paraíba passa a isentar de todos os impostos estaduais as indústrias de vulto econômico que viessem a se 1.564, de 25 de outubro de°instalar no território estadual, nos termos da Lei n 1956. Esta lei concede favores fiscais às indústrias que estavam instaladas no Estado, bem como as que viessem a se instalar. Esses incentivos variavam de 03 a 10 anos de isenção dos impostos estaduais, dependendo do capital investido e do tipo de indústria a ser instalada. Caso a indústria não tivesse similar no Estado, utilizasse matéria prima local e investisse valor igual ou superior a Cr$ 10.000.000,00, conseguiria o limite máximo de isenção. Havendo indústria similar, os mesmos benefícios só seriam concedidos se o valor investido fosse dobrado, e os prazos caíam pela metade se não utilizasse matéria-prima local. Ao assumir o governo do Estado, após o afastamento de Flávio Ribeiro Coutinho, o Governador Pedro Moreno Gondim cria dois importantes órgãos impulsionadores do desenvolvimento do Estado: o Fundo de 2.031 de 08°Desenvolvimento Agrícola e Industrial (FAGRIN), criado pela Lei N de abril de 1959. E o Banco de Fomento Agrícola S.A. (BANFOP), criado pela Lei 2.032 da mesma data.°n O FAGRIN foi criado com o seguinte objetivo: patrocinar a intervenção do Estado no processo produtivo em colaboração com pessoas físicas ou jurídicas de direito público, visando à realização de programas de desenvolvimento da economia agropecuária, extrativa e industrial do Estado. O BANFOP, entretanto, tinha como objetivo realizar operações relativas ao custeio, incentivos e melhorias da lavoura e pecuária, financiar a indústria e o comércio de produtos do Estado. No caso de Campina Grande, duas instituições tiveram papel decisivo no fortalecimento do grupo político defensor do desenvolvimentismo e do projeto de industrialização: a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP) que, conforme já foi citado, havia sido criada e instalada em Campina Grande em 1949 e a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica (FUNDACT), criada pela Lei Municipal n° 48, de 28 de dezembro de 1957. A passagem da atuação no campo econômico para esfera da luta político partidária foi conseqüência natural, na caminhada dos desenvolvimentistas campinenses. Animados pelos rumos que as discussões e as propostas oriundas dessas discussões tomavam no GTDN, e com a ascensão ao poder estadual do vice-governador Pedro Gondim, os campinenses se sentiram fortalecidos e resolveram enfrentar a corrente mais tradicional da política local. Na eleição municipal de 1959 se dá o primeiro confronto entre as duas correntes políticas que, guardadas as devidas proporções, refletiam o embate que se dava regionalmente. Embora, ambas defendessem o aumento da intervenção estatal como forma de combater os desequilíbrios regionais, tanto na forma como no conteúdo dessa intervenção, as duas forças divergiam radicalmente. Enquanto as forças políticas tradicionais do município, assim como as oligarquias tradicionais de toda a região, defendiam apenas maior envio de verbas para a região o que, em última instância, representava a continuidade da política que vinha sendo aplicada desde o início do século, pautada no fortalecimento das oligarquias locais e no mais deslavado assistencialismo, o grupo da FUNDACT e FIEP, articulado com os elaboradores do GTDN e em consonância com os anseios da burguesia industrial do Centro-Sul, elaborou um plano de governo que, mesmo tratando efetivamente dos problemas municipais, contemplava a discussão nacional e refletia o projeto político do GTDN. Esse documento representava a novidade na forma de fazer política no município. Estavam sendo apresentadas, aos munícipes campinenses, a nova proposta de intervenção estatal e a nova forma de atuação política que deveria refletir as mudanças a que o país estava sendo submetido. O plano de governo, apresentado por esse grupo, na eleição de 1959, vislumbrava a solução dos problemas seculares da região, a partir do desenvolvimento das forças endógenas e tendo como principal elemento aglutinador dessas forças a industrialização. Os munícipes campinenses se viram diante das seguintes opções: continuar com a política já conhecida de esperar a “ajuda” do governo federal e que essa ajuda fosse repassada para o governo estadual e, posteriormente, para o município, tudo nos moldes anteriores e, com isto, manter os privilégios das oligarquias tradicionais, ou optar pelo novo projeto apresentado pela oposição e tentar romper com a política assistencialista, já tão conhecida de todos. A opção da maioria da população campinense foi pela manutenção do status quo, pela “segurança” e pela continuidade da política que bem ou mal vinha se mantendo. Então, nesse primeiro embate, saiu vitorioso o candidato Severino Cabral, representante direto da política “assistencialista” - até então em vigor -, que, reforçando a afirmativa acima, adotou como lema de campanha o Slogan: “Dividir, Doar e Ajudar". Apesar de derrotado nas eleições de 1959 o grupo, que lançou a candidatura de Newton Rique, manteve-se em atuação através dos dois principais organismos paralelos à administração pública: a FIEP e a FUNDACT. Conforme já citado, a FUNDACT era a trincheira avançada de luta do setor da sociedade campinense que acreditava que a industrialização seria a redenção para a cidade, resolvendo todos os problemas sociais. A Fundação seria o órgão que direcionaria esta etapa de desenvolvimento. A FUNDACT, além das atividades ligadas diretamente à indústria, ainda mantinha a Faculdade de Filosofia de Campina Grande, onde se formava a nova geração de intelectuais, e fundou a Escola Industrial de Campina Grande, com o objetivo de fornecer técnicos para a indústria em expansão. Com o surgimento do GTDN, o grupo desenvolvimentista campinense, que atuava na FUNDACT e FIEP, ganha destaque no cenário estadual e regional e, obviamente, se fortalece no âmbito local. A partir das resistências criadas pelas oligarquias regionais à criação da SUDENE, nos moldes propostos pelo GTDN, tem início o embate entre os setores tradicionais e as novas forças regionais, essas últimas, apoiadas pela burguesia do Centro Sul. Estabelece-se, nesse período, sólida aliança entre os desenvolvimentistas campinenses e os defensores da criação da SUDENE de todo o país. No campo parlamentar era forte a resistência dos parlamentares do Nordeste à criação da SUDENE. Conforme já foi citado, a maioria dos parlamentares nordestinos, defendia maior intervenção estatal, mais que fosse preservada a forma de intervenção e fortalecido os órgãos já existentes. O objetivo da SUDENE era precisamente o de tornar o Estado também produtor no Nordeste, já que até então ele limitava-se a ação meramente assistencialista. Ao tomar conhecimento das mudanças propostas tanto na forma como no conteúdo da ação estatal, os parlamentares nordestinos posicionaram-se contrários à criação do órgão. A discussão em torno da criação ou não da SUDENE tornou-se polêmica e passou a dividir opiniões dentro e fora do âmbito regional. No Nordeste, a oposição à SUDENE foi bastante intensa, principalmente por parte das oligarquias tradicionais que se “encastelavam” no principal órgão de manutenção da política assistencialista e emergencial: o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). No Congresso Nacional, a defesa da criação da SUDENE ficou a cargo dos parlamentares do Centro-Sul e de alguns poucos congressistas ligados à burguesia industrial nordestina que apoiavam o projeto. Apesar de irrelevante do ponto de vista parlamentar, o grupo desenvolvimentista campinense era muito respeitado nas discussões acerca da nova política proposta no documento. Em termos nacionais esse grupo era representado por Aluízio Affonso Campos e também se sentia representado na pessoa do economista Celso Furtado. Mesmo contrariando a vontade das oligarquias tradicionais da região e de seus representantes no Congresso Nacional e tendo como meta colocar em prática as soluções apresentadas pelo GTDN, em 15 de Dezembro de 1959 através da Lei N° 3.692, é criada a SUDENE. Para júbilo dos desenvolvimentistas campinenses.

Campina linda e grande (parte IV)
Damião de Lima
A criação da SUDENE representava, para os desenvolvimentistas campinenses, a grande possibilidade de ver a infra-estrutura que vinha sendo montada no município, através de acordos e negociações políticas, passar a ser utilizada e cumprir o seu papel de alavancar o desenvolvimento do município, tendo como carro chefe a industrialização. O município de Campina Grande, ao se integrar na discussão técnica e política acerca da extensão do desenvolvimentismo para a região Nordeste, começa a preparar a infraestrutura e os mecanismos legais capazes de facilitar a adoção desse tipo de política. As medidas visando a implementação da política desenvolvimentista, bem como, as melhorias na infraestrutura eram negociadas e realizadas sempre tentando envolver as três esferas de poder. Conforme já citado, a criação dessa infraestrutura capaz de atrair e dar condições vantajosas para a efetiva instalação de indústrias de grande porte no município perpassou por quatro governos municipais: Elpídio de Almeida, Severino Cabral, Newton Rique e Williams Arruda e por três administrações estaduais: José Américo de Almeida, Flávio Ribeiro Coutinho e Pedro Moreno Gondim. No ano de 1956, durante a segunda gestão do prefeito Elpídio de Almeida (1955-1959), é criada, pela Prefeitura Municipal de C. Grande, a Comissão Municipal de Desenvolvimento Econômico (COMUDE). Em 1958, juntamente com a inauguração da adutora do açude de boqueirão, cria-se a companhia de saneamento e esgoto (SANESA). Nesse mesmo ano, através da Lei N 47, de 08 de Agosto de 1958, era concedida a isenção de impostos municipais, pelo prazo de dez anos, às indústrias novas de produtos sem similares que viessem a se instalar no município. O que seria feito após o parecer da FIEP, certificando de que não havia indústria similar. Este benefício é estendido também às indústrias que haviam se instalado no município até cinco anos antes da vigência da Lei. O Decreto N 38, de 08 de Setembro de 1958, regulamentou esta Lei. Com a criação da COMUDE e a lei de incentivos fiscais estava sendo preparado o terreno para o desenvolvimentismo do ponto de vista institucional e com a criação da SANESA e a inauguração da adutora de Boqueirão, preparava-se a infraestrutura para a indústria que deveria se instalar no município, bem como, criava-se infraestrutura na cidade para crescimento demográfico que adviria com a industrialização. A derrota do grupo desenvolvimentista nas eleições de 1959 não esmoreceu os entusiastas da industrialização. Durante toda a gestão do prefeito Severino Cabral (1959-1963), são construídas alianças políticas, visando a implementação do projeto de industrialização e, conseqüentemente, a ascensão do grupo desenvolvimentista ao poder municipal. Essas articulações contavam com as “bênçãos” do governo do Estado, Pedro Gondim, que tinha grande interesse em ver seus aliados comandando os destinos do município mais importante do Estado e um dos mais promissores da região. Através de negociações entre a FUNDACT, a FIEP e a equipe do prefeito eleito, algumas iniciativas, com o claro objetivo de dar continuidade à política desenvolvimentista, continuam tomando corpo. Exemplos dessa afirmativa são os seguintes projetos de lei aprovados entre 1959/63: Projeto de Lei N 14/59, que autoriza a criação do Banco do Município de Campina Grande S/A com 51% das ações da prefeitura. Este projeto é aprovado e transformado em Lei em 26/04/1960. No mesmo ano é aprovado o Projeto de Lei N 59/59, que cria o (FUNDAGRIM) Fundo Municipal de Desenvolvimento Agro-industrial, aprovado em 14/05/1960. E já no final da gestão de Severino Cabral, foi aprovado o Projeto de Lei N 1/63 em 22/01/1963, no qual o município faz a doação de uma área de 5.760.00 m2 para a instalação da IPELSA, Indústria de Papel e Celulose. Essas medidas, aliadas à criação da infraestrutura e aos incentivos fiscais municipais e estaduais, criavam uma base sólida de incentivos as indústrias já existentes, bem como, serviam de atração para novas indústrias que desejassem instalar-se no município. Outro importante passo, no sentido de atrair novas indústrias para o município, é dado pela Federação das Indústrias do Estado da Paraíba que cria, em 1961, o Departamento de Produtividade. Com essa medida, Campina Grande colocava-se na vanguarda de várias cidades nordestinas, tornando-se ponto de irradiação de novas idéias. O incremento da produtividade era largamente empregado nas empresas do Centro Sul, depois de se terem constituído em verdadeira revolução na Europa e nos Estados Unidos. Em todo o Nordeste, apenas as Federações de Indústrias da Bahia, Sergipe, Pernambuco e Paraíba contavam com estes departamentos de produtividade, todos sob a orientação geral do Conselho Nacional de Produtividade na Indústria (CENPI). Além dessas medidas de caráter técnico e político, desenvolve-se, no início dos anos 60, mais uma parceria envolvendo o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Campina Grande. O objetivo dessa nova parceria era realizar campanhas de publicidade junto aos principais industriais do país, visando atrair investimentos para o projeto de industrialização. As respostas a essas iniciativas não tardaram a aparecer. Enquanto o país vivia as incertezas do conturbando governo Jânio Quadros e João Goulart, em Campina Grande, o clima era de euforia com o crescimento econômico experimentado pela cidade. Em 1962, Campina Grande era a cidade do interior mais promissora e a que mais crescia em toda a região. A cidade contabilizava, nesse ano, 16 bancos (incluindo cooperativas que funcionavam como bancos), sendo nove deles com matrizes na cidade, grande incremento das atividades comerciais e, em relação ao setor industrial, estavam estabelecidos mais de 220 estabelecimentos industriais. Destes, 24 estabelecimentos com mais de 10 operários e 12 com mais de 50 operários. Com a criação da SUDENE e seu posterior funcionamento, manteve-se a boa relação entre os desenvolvimentistas campinenses da FIEP e FUNDACT e a burocracia que comandava o órgão. Esse bom relacionamento, aliado a política de incentivos fiscais e a boa infraestrutura disponibilizada pelo município, atraiu investimentos e fortaleceu, sobremaneira, o ideário desenvolvimentista. É nesse contexto de aliança entre os setores políticos, de boa relação com o principal órgão fomentador do desenvolvimento na região e de euforia econômica que, em 1963, é eleito o candidato que havia sido derrotado na eleição anterior. Ainda durante a campanha, Newton Rique apresenta o plano de ação para o período de sua gestão 1963/67 que pode ser resumido nos seguintes pontos: a) Atrair para Campina Grande investimentos industriais de maior porte; b) Amparar e ajudar a pequena indústria e o artesanato e; c) Fortalecer a estrutura econômica do município. Este projeto tinha total apoio do governo do Estado, o então governador, Pedro Gondim. Já nos primeiros meses da administração Newton Rique / William Arruda, a política de incentivo à industrialização ganha forte impulso, para cuidar desse importante setor é criada a Secretaria de Indústria e Comércio. Essa secretaria, composta por técnicos oriundos da FUNDACT, teria como principal objetivo fornecer toda a infra-estrutura e ajudar na elaboração e na negociação de projetos, junto aos investidores interessados em investir na cidade. Passou a ser prioridade da administração municipal a busca incessante de novos investimentos. Os órgãos financiadores, tanto da esfera estadual como da esfera federal, eram incessantemente procurados pelo prefeito ou por seus secretários, no sentido de trazer novos investimentos. Buscou-se maior articulação com SUDENE, FIEP, Conselho Estadual de Desenvolvimento, BNB, BNDE, Carteira Industrial do Banco do Brasil, entre outros órgãos. Conforme já assinalado, era prioritária e considerada como vital para o município a atração de novas indústrias. As campanhas de propagandas foram intensificadas e foi dada especial atenção à região Sudeste. Essas campanhas tinham como objetivo apresentar as vantagens oferecidas pela região Nordeste, pelo Estado da Paraíba e, em especial, pelo município de Campina Grande, aos empresários que estivessem dispostos a diversificar seus investimentos. Como fruto desse esforço, em pouco tempo, o município torna-se conhecido nacionalmente e passa a ser visto como bom local para se realizar investimentos. Complementando a política industrializante, o prefeito Newton Rique criou em 13 de dezembro de 1963 o Fundo Municipal de Industrialização de Campina Grande (FUMINGRA). A criação do FUMINGRA era considerada, pelo prefeito, como outro importante passo dado pelo poder público, no sentido de incentivar a industrialização que, em sua opinião, continuava sendo a grande alternativa para a resolução dos problemas municipais. Com objetivo de administrar o FUMINGRA é criada a Companhia de Industrialização de Campina Grande (CINGRA). O final do ano, de 1963, é marcado por esses dois projetos que se complementam e dão lastro à política de industrialização municipal. A CINGRA na qualidade de administradora do FUMINGRA fincaria bases no seguinte tripé: a) Implantação de indústrias; b) Financiamento a empresas; c) Agenciamento de capital e “know-how”. As primeiras ações da CINGRA são no sentido de dotar as indústrias já existentes de uma infra-estrutura que as modernizasse, bem como, utilizar a persuasão do poder público para tentar de todas as formas possíveis e através de diversos mecanismos, atrair para a cidade as indústrias do Sudeste que começam a se instalar na região Nordeste, dentro da política de incentivos desenvolvida pela SUDENE. As ações da companhia eram coordenadas por uma equipe de técnicos altamente eficientes e afinados com a política do mandatário municipal já que, o quadro de diretores da CINGRA era composto pelos criadores da FUNDACT. O prefeito Newton Rique também envidou junto ao governo do Estado, objetivando a concretização da instalação do Distrito Industrial de Campina Grande, no que obteve êxito, pois, ainda em 1963, atendendo o pedido do prefeito de Campina Grande, o Governador do Estado, Pedro Gondim, através do Decreto N 3.491 de 31 de dezembro de 1963, estabelece a criação dos Distritos Industriais de João Pessoa e Campina Grande. De acordo com o decreto, seriam aplicados pelo Governo de Estado, em obras de infra-estrutura, cerca de um bilhão e trezentos milhões de cruzeiros, conforme entendimentos com o Fundo Agrícola e Industrial (FAGRIN) e a USAID. Estavam, assim, criadas as condições para a implementação do projeto de industrialização capaz de colocar o município de Campina Grande como um posto avançado do desenvolvimentismo na região Nordeste. Os investidores perceberam esses avanços e não se negaram a investir na cidade; os dados sobre as indústrias instaladas no município, no início dos anos 60, mostram que a industrialização do município ganhava impulso, apesar de toda a crise que assolava o país. E o mais importante, com o envio de diversos projetos à SUDENE feitos primeiramente pela FUNDACT e, posteriormente, pela CINGRA os resultados são extremamente satisfatórios. Entre 1961 e 1963 foram aprovados três projetos para o município e, outros cinco projetos, estavam em estágio avançado de negociação. Entre os projetos negociados, dois eram considerados como muito importante para alavancar o desenvolvimento, devido ao volume de recursos e ao número de empregos a serem gerados: o projeto de implantação da Campina Grande Industrial Ltda. (CANDE), produtora de tubos plásticos, e, principalmente, o projeto de implantação da WALLIG NORDESTE S/A, empresa de grande porte, produtora de fogões a gás liquefeito. Esse cenário, de euforia, com a possibilidade de crescimento econômico, será modificado com a política econômica, implementada pelos militares após o golpe militar de 1964. A partir da política econômica implementada pelos governos militares, a linda e progressista Campina Grande entrará em declínio político e econômico, perdendo importância no cenário regional e estadual. No entanto, essa é outra parte da história que, em breve, estará exposta nas livrarias com a publicação do meu novo livro. Aguardem...
Damião de Lima é Professor do Departamento de História da UFPB

História da Paraíba - turmas do PADRÃO

A PARAÍBA NA REPUBLICA DAS OLIGARQUIAS
O Brasil da segunda metade do século XIX passou por um processo de modernização e urbanização. Esse contexto de diversificação econômica e social se caracterizou por dois aspectos: de um lado, o crescimento das camadas sociais urbanas e, por outro, o início do conflito de interesses entre a velha aristocracia escravista e a nova, cafeeira do Oeste Paulista, favorável à transição para o trabalho livre.
No campo exclusivamente econômico “a modernização da Segunda metade do século XIX trouxe problemas decorrentes da penetração do capitalismo internacional em vários setores, controlando redes ferroviárias, gás, iluminação de rua, instalação de engenhos centrais, criação de bancos, comércio de exportação e importação e outras atividades rendosas que eram monopolizadas por estrangeiros...“ (VIOTTI DA COSTA, Emília - Anais do Museu Paulista.)
Percebemos, portanto, que a crise do Império e a conseqüente Proclamação da República foram decorrência direta das transformações econômicas e sociais da segunda metade do século XIX o que, contudo, não ocorreu sem problemas.
Os vários problemas herdados da monarquia brasileira se justificam pelo próprio processo de implantação da República, sem participação popular, que não alterou a estrutura do país. A diretriz política limitou-se aos setores sociais mais abastados do país, concentrados no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
O NASCIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA NA PARAÍBA
O Movimento Republicano na Paraíba se caracterizou por uma acentuada apatia. Ao contrário do que se verificava em outras províncias, ali não se fundaram partidos nem agremiações (“clubes”) em torno das idéias republicanas. O mesmo ocorreu quanto à divulgação desse ideário pela imprensa “...De início os jornais quase que o ignoraram, limitando-se a publicar minúsculas notas em páginas internas sobre o que acontecia no sul do país. Entretanto com o crescimento da campanha, A GAZETA DO SERTÃO, de Campina Grande e a GAZETA DA PARAHYBA, da capital, abrem seções ‘movimento republicano’ e passam a divulgar a campanha”. (RODRIGUES, 1989: 14).
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
A exemplo do restante do Brasil, onde a República pôs um fim à centralização política do regime monárquico e foi instituído um sistema federativo, consagrado juridicamente na Constituição de 1891, a proclamação não correspondeu aos anseios políticos e socioeconômicos da maioria da população.
A permanência do modelo agro-exportador baseado no binômio latifúndio e monocultura assegurou o controle do estado às famílias oligárquicas. Desta maneira, no período denominado “República Oligárquica”, a Paraíba apresentou os mesmos mecanismos políticos existentes a nível nacional: Subserviência a política café com leite, Política dos governadores, “Voto de cabresto”, Coronelismo, etc. A historiadora Linda Lewin, em seu estudo sobre a ação das parentelas na política paraibana, afirma que, na era das oligarquias, cerca de três dúzias de famílias, atuantes em vários municípios, concentravam o poder político. Mencionamos algumas delas: Os Cavalcanti de Albuquerque/Lauritzen em Campina Grande; os Dantas em Teixeira; Os Pessoa em Umbuzeiro; os Pereira em Princesa Isabel; os Sátiro em Patos; os Cunha Lima em Areia.
No contexto local, destacaram-se três forças políticas responsáveis pela dominação oligárquica ao longo de toda República velha: Venâncio Neiva (Venancismo), Álvaro Machado (Alvarismo) e Epitácio Pessoa (Epitacismo).
Paradoxalmente ou não, o primeiro Presidente republicano da Paraíba , Venâncio Neiva (1889-1892), era reconhecidamente monarquista, mas não atuara na política até então. Sua nomeação deveu-se a influencia de seus irmãos Generais que tinham influencia junto a Deodoro da Fonseca. Em seu curto governo, utilizou a máquina do Estado de forma nepótica, em benefício privado da oligarquia que constituía. (SILVEIRA, 1999: 62)
A queda de Deodoro da Fonseca e a subida do Marechal Floriano Peixoto ao poder repercutiu na Paraíba com a saída de Venâncio Neiva e a nomeação de Álvaro Machado para a presidência do estado. Iniciava-se o predomínio da oligarquia alvarista que perduraria até a morte de seu fundador em 1912. Durante este período Álvaro Machado obteve dois mandatos como Presidente da Paraíba, revezando-se constantemente com seu grande aliado Monsenhor Valfredo Leal, foi Senador e desde que assumira a direção oligárquica do estado fundara o Partido Republicano da Paraíba. Enfrentou a oposição do Partido Autonomista, criado por Venâncio Neiva, que tinha em Epitácio Pessoa o seu maior aliado. Conseguiu demonstrar grande habilidade política, em 1911, ao conciliar-se com os fieis seguidores de Epitácio Pessoa e Venâncio que também se aglutinaram no agora formado PRC (Partido Republicano Conservador). (SILVEIRA, 1999: 62)
No período de 1912 a 1915 Epitácio pessoa e Valfredo leal dividiam a liderança do PRC, quadro que se manteve até a concretização das disputas pelo poder estadual, ocasião do rompimento entre Epitácio e Valfredo e divisão do PRC nas alas valfredista e epitacista. (SILVEIRA, 1999: 62 - 63)
Apuradas as urnas e eleitos todos os candidatos epitacistas garantiu-se a consolidação do poder de Epitácio pessoa. Daí, até 1930, Epitácio conduziria a política paraibana como autoridade absoluta, mesmo não residindo em seu estado natal. “...A consagração da hegemonia de Epitácio Pessoa, a nível formal, ocorreria em 1916. Ele volta, então, ao estado e reconstitui o Partido Republicano da Paraíba...” (RODRIGUES, 1989: 201).
O período áureo do epitacismo correspondeu à presidência de Sólon de Lucena, devido à presença de Epitácio Pessoa na Presidência da Republica que fez carrear grandes somas de dinheiro para a realização de obras contra as secas e construção do porto do varadouro. (SILVEIRA, 1999: 63).
ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
No período da República Velha, Além de um incipiente processo modernizador, a Paraíba assistiu à continuidade do modelo agro-exportador, estruturado em duas atividades principais: o açúcar e o algodão.
O setor açucareiro
A performance da economia açucareira, durante a fase da Primeira República, pode ser definida por um estado permanente de crise. A causa central da crise está ligada à concorrência sofrida no mercado nacional e no mercado regional.
No plano nacional, áreas antes destinadas exclusivamente à produção cafeeira passaram a diversificar as suas atividades, produzindo mercadorias como o açúcar. São Paulo e Rio de Janeiro, que antes compravam o açúcar paraibano, passaram a produzir o seu próprio açúcar, rejeitando a produção do nosso estado.
A nível regional, a concorrência de Pernambuco, Bahia e Sergipe ocasionaram o mesmo problema. Assim, a produção da Paraíba destinou-se apenas ao seu mercado interno e nem a substituição dos engenhos pelas usinas nas primeiras décadas do século XX foi capaz de alterar esse quadro.
O setor algodoeiro
A situação desse setor também apresentava um perfil de crise, só que de forma diferente da realidade açucareira.
O problema relacionado ao algodão não era provocado pelo falta de compradores, mas pelo papel dominante exercido por Pernambuco em relação à região nordeste. A ausência de uma estrutura de escoamento adequada às necessidades do algodão paraibano, produzido nos sertões, forçava os seus produtores a vendê-lo diretamente às casas comerciais de Pernambuco, prejudicando a arrecadação do Governo Estadual que não taxava a exportação do produto.
A modernização
Na passagem do século XIX para o século XX, pode-se situar o início do processo modernizador que se fez presente na economia paraibana da República velha e, em certa medida, como reflexo das situação que caracterizava o estado das nossas principais culturas de exportação.
A expansão ferroviária tem sido destacada em diversos trabalhos como a iniciativa modernizadora de maior impacto. A respeito disso, o historiador José Octávio de Arruda Melo destacou a seguinte seqüência temporal para a implantação da rede ferroviária: Capital (1881) – Pilar (1883) – Guarabira (1884) – Cabedelo (1889), como atividades da CONDE D’EU RAILWAY COMPANY e, posteriormente, a implantação da GREAT WESTERNY RAILWAY (estrada de ferro Great Westerny) que ampliou o trajeto ferroviário para Itabaiana e Alagoa Grande via Mulungu (1901) e de Itabaiana para Campina Grande, atravessando Mogeiro e Ingá (1907). Note-se que, no trajeto descrito acima, sobretudo o da GREAT WESTERNY RAILWAY, Itabaiana ocupa posição aglutinadora, inclusive, dos trens de origem sertaneja que, desde 1904, escoavam sua produção no traçado Sousa – Campina Grande.
Com a implantação da rede descrita acima, Campina Grande consolida-se como centro revendedor de algodão ligado a Associação Comercial de Pernambuco. Essa instituição exerceu forte influência na definição dos “caminhos de trem” para Itabaiana que captava a produção algodoeira dos sertões paraibanos e a remetia ao porto de Recife.
Na esteira da expansão ferroviária e tendo a frente a capital “...O trem apoiou a urbanização, pontilhada entre 1900 e 1920, de bondes jornais luz elétrica, clubes e artístico coreto, com vários desses equipamentos importados do Recife. Em Alagoa Grande, saraus e recitais de canto realizavam-se no teatro Santa Inês. Por seu turno, consorciando café e ferrovia, Bananeiras encheu-se de praças, sobrados, casarões, patronato agrícola e obras de drenagem de seu riacho, além de revistas e jornais. (...) Campina Grande, convertida em maior cidade do interior nordestino, (...) assinalou a barragem do açude Bodocongó em 1919, inauguração da luz elétrica em 1920, agencia do Banco do Brasil em 1923, instalação da primeira fábrica moderna e do mercado publico em 1925 e inicio do trafego de bondes a gasolina em 1926”. (MELLO, 1997:162).
Ainda nos anos de 1920 a economia da zona da mata também viveria sua modernização. Foi nessa época que apareceram as usinas de açúcar, completando o ciclo de evolução tecnológica que se iniciara na década de 1880, com a construção do Engenho Central S. João. Todavia, mesmo com o incremento tecnológico que caracterizou a substituição dos velhos engenhos de bangüê pelas usinas, os problemas de mercado enfrentados pelos produtores de açúcar da Paraíba continuaram a existir e a reconversão para o mercado interno foi inevitável. Se as modernas fábricas de açúcar não reincorporaram a produção paraibana aos mercados nacional e internacional, por outro lado, contribuíram para reforçar uma estrutura de produção que garantia a manutenção dos privilégios na classe proprietária. Assim, os antigos engenhos passaram a condição de fornecedores de cana reforçando a monocultura, além do latifúndio que se expandiu, mediante expedientes que variavam da execução de hipotecas de pequenos proprietários até a grilagem de terras pelos usineiros, com base em fraudes e ação intimidadora. Ademais, o advento das usinas traz consigo o assalariamento da mão de obra especializada, trem, crédito bancário, sociedade por ações e pecuária intensiva – as inovações eram evidentes.

O engenho na visão de De Bry, séc XVI. Usina de São Martinho, Estado de São Paulo.
Se o processo de modernização mudou a feição de algumas cidades paraibanas e redefiniu a situação tecnológica das principais atividades econômicas, transformações equivalentes não se verificaram nos aspectos social e político. Fora o crescimento de algumas camadas médias urbanas, a estrutura social continuou profundamente excludente com a massa trabalhadora do campo ainda na era do pré-capitalismo. Na política, o controle do poder ainda continuou pertencendo às parentelas que se mantiveram no poder invariavelmente até 1930 e, no período posterior, continuaram influenciando intensamente as decisões políticas paraibanas.

VESTIBULARES

01. (UFPB) A respeito da república velha (1889/1930) na Paraíba, afirma-se:
I. A situação econômica e social era favorável. As principais atividades econômicas encontravam-se em expansão, gerando uma distribuição de renda satisfatória ao conjunto da população.
II. O domínio oligárquico na Paraíba pode ser dividido em 03 etapas bem delineadas: Venancismo (1889/1892), Alvarismo (1892/1912) e epitacismo (1915/1930).
III. De modo geral os mecanismos de dominação política postos em prática pelas oligarquias paraibanas foram os mesmos utilizados no plano nacional.
Estão corretas:
a) I, II e III.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.
e) Apenas a I.
RESPOSTA - D

02. (UFPB) Durante a república velha na Paraíba a forma mais contundente de resistência ao poder das oligarquias foi o cangaço. Este movimento, que não se apresentava com um projeto político definido, pode ser caracterizado como:
a) Pura aberração social, fruto da mentalidade violenta do homem do campo.
b) Um meio de resistir a miséria e combater a opressão das oligarquias através da formação de bandos independentes.
c) Uma maneira encontrada para desestabilizar o domínio político das oligarquias já que os bandos de cangaceiros eram financiados por grupos de oposição.
d) Um fenômeno político isolado, pois o cangaço se restringiu a Princesa Isabel.
e) Um fenômeno social de grande amplitude já que o cangaço se insurgiu em todas as áreas ocupadas do estado, inclusive centros urbanos.
RESPOSTA - B

03. (UEPB) Ao abordar as seduções do moderno na Parahyba do norte, Gervácio B. Aranha destaca, entre outros elementos, a luz gerada através da energia elétrica. Analise as afirmativas sobre a implantação desse sistema no estado:
I – A primeira cidade a contar com energia elétrica no estado foi Itabaiana e, seis dias depois, o sistema foi implantado na capital.
II – Quatro anos depois de implantado na capital, o sistema foi implantado em mais três cidades. Desta feita, foram beneficiadas as cidades de Guarabira, Bananeiras e Sapé.
III – Mesmo sendo considerada a época a mais populosa e comercial do estado, a cidade de Campina Grande só teve a sua iluminação inaugurada em 1920, ou seja, oito anos depois da capital.
Está (ao) Correta (s):
a) Somente a proposição I.
b) Todas as proposições.
c) Somente a proposição II.
d) Somente as proposições I e III.
e) Somente as proposições I e II.
RESPOSTA - B


O GOVERNO JOÃO PESSOA - 1928/1930
João pessoa foi eleito presidente do estado da Paraíba em 1928. Sua eleição foi produto de uma determinação do Senador Epitácio Pessoa, seu tio, que o indicou como candidato oficial de seu grupo político para a sucessão estadual. Apesar de saído do interior da oligarquia epitacista, João Pessoa procurou concretizar um programa de reformas que buscavam a modernização política e administrativa do estado, chocando-se com os interesses de alguns grupos oligárquicos.
Até assumir a presidência da Paraíba João Pessoa não ocupara cargos políticos mais expressivos mas atuava nos bastidores, intermediando a aquisição de verbas junto ao governo federal. A historiografia afirma que, a época de sua escolha, estava preocupado com o crescente descontrole que vinha caracterizando a relação entre cúpula e a base do epitacismo. Ministro do Supremo Tribunal Militar destacou-se pela severidade de suas sentenças contra oficiais superiores que desrespeitavam a hierarquia militar e foi com esse espírito autoritário que assumiu o governo da Paraíba.
As reformas realizadas pelo presidente paraibano procuraram atacar dois problemas básicos: a dependência econômica em relação a Pernambuco e a força do poder local em relação ao governo do estado.
Visando atenuar a crise econômica paraibana e aumentar a arrecadação estadual, o Presidente decretou o aumento dos impostos sobre as exportações e importações que não fossem realizadas pelos portos paraibanos. A medida contrariou os interesses de comerciantes e latifundiários do sertão que estavam vinculados a grupos comerciais de outros estados, notadamente Pernambuco. Esses grupos, beneficiários de uma situação que prejudicava a arrecadação estadual, protestaram e a “guerra tributária” foi uma decorrência desta oposição de interesses.
“Na área financeira, João Pessoa lançou mão de agressiva política tributária – a dos impostos de barreira – para fazer com que as mercadorias que, ajudadas pelo contrabando, escoavam para as praças vizinhas, passassem a ser exportadas pelo porto de Cabedelo. (...) Os beneficiários da antiga desarticulação econômica do estado reagiram. Os protestos mais veementes partiram de Recife, onde o grupo mercantil dos Pessoa de Queiroz contestou a orientação pessoista. (...) Dispondo de jornal com larga circulação – o JORNAL DO COMMERCIO do Recife – taxou o governo paraibano de cupim tributário e A UNIÃO respondeu no mesmo tom. (...) Na guerra tributária, travada de março a julho de 1929 pela imprensa, já se esboçava o quadro da futura guerra civil de Princesa. (...) Enquanto João Pessoa contava com apoios na capital e centros urbanos, tinha contra si a burguesia compradora do porto de Recife, a que se ligavam os grandes proprietários (...) Entre esses o coronel José Pereira (...).” (MELLO, 1997:174).
No campo político, o Presidente da Paraíba começou a prestigiar as oposições municipais, concedendo-lhes cargos ligados ao governo e determinou o desarmamento geral da população, medidas que entravam em conflito com uma estrutura de poder localista. O segundo semestre de 1929 traria tona novos problemas.
O envolvimento da Paraíba nos conflitos que resultaram na revolução de 1930 iniciou em julho de 1929, ocasião em que foi aberto o quadro sucessório nacional. Rompendo a política do café com leite, o Presidente da República Washington Luiz, paulista, indicou Júlio Prestes, também paulista, como candidato oficial a sucessão presidencial. Minas Gerais, através do Presidente Antônio Carlos, lançou a candidatura de Getúlio Vargas, Presidente do Rio Grande do Sul. João Pessoa, Seguindo a orientação de Epitácio Pessoa, decidiu apoiar o bloco oposicionista e acabou como candidato a Vice-Presidente na mesma chapa – Aliança liberal.
As eleições para Presidente da República, Vice-Presidente, Senado federal e Deputados federais foram marcadas para 01/03/1930. Em meados de Fevereiro, João Pessoa reuniu a comissão do PRP para definir a chapa de Senador e Deputados federais. Na composição da chapa, verificou-se uma renovação quase completa. Foi excluído o nome do Ex. Presidente João Suassuna, fiel aliado do Coronel José Pereira e, todavia, foi mantido o nome do sobrinho do Presidente, Carlos Pessoa. Esse último fato constituiu o pretexto para o rompimento político do coronelato sertanejo com a administração estadual, liderados pelo Coronel José Pereira. O cenário da guerra de Princesa estava desenhado e sua eclosão deu-se em 01 março de 1930, por ocasião do pleito nacional.
A REVOLTA DE PRINCESA
CAUSAS
· O rompimento de João Pessoa com a candidatura Júlio Prestes, nas eleições presidenciais de 1930.
· O desprestígio do coronel José Pereira, chefe político de Princesa Isabel, junto à administração João Pessoa.
MECANISMOS
· Revolta armada liderada pelo Coronel José Pereira contra a administração João Pessoa.
· Financiamento da revolta pelo grupo Pessoa de Queiroz.
· Apoio do governo federal aos rebeldes.
OBJETIVOS
· Desestabilizar politicamente o governo João Pessoa.
· Criar condições para uma intervenção federal no estado da Paraíba.
DESFECHO
O conflito foi encerrado após o assassinato de João Pessoa por João Dantas, aliado de José Pereira, na Confeitaria Glória em Recife no dia 26 de julho de 1930.
A REVOLUÇÃO DE 1930
O assassinato de João Pessoa foi precedido da derrota sofrida pela aliança liberal no pleito presidencial de 1930. Mesmo com as evidências de fraude eleitoral, a situação tendia a uma acomodação política já que a direção do bloco oposicionista não se dispunha a tomar o poder pela força. Porém, as circunstâncias históricas decorrentes do crime da Confeitaria Glória mudaram o rumo dos fatos. A nação foi tomada por um estado de comoção e o crime passou a ser associado à participação de João Pessoa na chapa de Getúlio Vargas como candidato a Vice. O assassinato serviu de estopim político para que o grupo radical da aliança liberal, apoiado por setores tenentistas do Exército, depusesse Washington Luís e impedisse a posse de Júlio Prestes, após rápido conflito armado.
A Paraíba teve uma participação destacada no movimento de 1930. Além de sediar o comando militar do norte, sob as ordens de Juarez Távora, dirigiu politicamente o movimento no Nordeste, tarefa executada por José Américo de Almeida. Foi o primeiro estado a pegar em armas para a deposição do último Presidente da república velha.
Cortejo do corpo de João Pessoa na capital paraibana

VESTIBULARES

01. (UFPB) O trecho de autoria do “coronel” José Pereira oferece uma idéia do que foi o conflito interno na Paraíba, em 1930, conhecido como revolta de Princesa: “Ora, eu me bato contra o governo da Paraíba há mais de 60 dias. Como pois não classificar esta luta onde já houve até agora cerca de 250 baixas, incêndios, dinamitação de dezenas e dezenas de casas e assassinatos frios de crianças e mulheres indefesas, prisão de senhoras como reféns, campos de aviação em preparativos, aviões apreendidos, de uma guerra? É uma guerra: guerra civil não lhe faltando nenhum dos seus característicos”. (Depoimento de José Pereira, Jornal do Comércio, Recife, 09 de maio de 1930). Constitui um dos fatores determinantes que desencadearam este conflito:
a) A prosperidade econômica da Paraíba, que levou João Pessoa a adotar medidas fiscais de abertura comercial com os estados, forçando os produtores de algodão do sertão a protestarem contra esta deliberação.
b) O acordo político entre Zé Pereira e a aliança liberal, articulado pelo Presidente Washington Luiz, que estimulou o comércio da Paraíba com os estados vizinhos.
c) A guerra tributária, adotada por João Pessoa, que provocou o rompimento político do perrepista Zé Pereira, líder das oligarquias sertanejas.
d) O apoio de João Pessoa a João Suassuna em Catolé do Rocha, provocando desavenças entre Zé Pereira (perrepista) e Silveira Dantas (líder liberal em Teixeira).
e) A união das oligarquias algodoeiras do sertão, que se encontravam decadentes devido à crise de 29 e eram favoráveis às barreiras comerciais contra os estados de Pernambuco e ceará.
RESPOSTA - C

02. (UFPB) “O Deputado José Pereira pretendia criar um clima de desordem na Paraíba que justificasse uma possível intervenção federal em nosso estado. Para tanto recrutou grande número de jagunços que marcharam sobre várias cidades do sertão paraibano, criando um drama de inquisição”. (OCTAVIO, José. História da Paraíba: lutas e resistência.)
O trecho faz menção a um fato da História paraibana ocorrido durante a crise do domínio oligárquico, estamos nos referindo:
a) A revolta de Princesa – 1930.
b) A aliança entre João Pessoa e José Pereira com vistas as eleições presidenciais de 1930.
c) A tentativa de impedir a candidatura de João Pessoa como vice na aliança liberal, efetivada por José Pereira em 1930.
d) A revolução de 1930.
e) A revolução constitucionalista de Princesa em 1929.
RESPOSTA: A

03. (UEPB) As coordenadas que direcionaram a revolução de 1930 na Paraíba foram, exceto:
a) João Pessoa tomou atitude contrária ao predomínio das grandes famílias no interior.
b) João Pessoa procurou dar um golpe no comércio que se fazia no sertão, tributando pesadamente as mercadorias que vinham de fora do estado.
c) A reação contra João Pessoa na Paraíba foi iniciada pelo coronel José Pereira, na revolta de Princesa.
d) O assassinato de João Pessoa, em Recife, não teve relação com a revolução de 30.
e) João Pessoa negou apoio ao governo federal e filiou-se a aliança liberal.
RESPOSTA - D

04. (UFPB) “Neste posto estarei ao dispor de V.Exc. que com tanta bravura e dignidade defende nesta hora triste da República, não apenas a autonomia do seu glorioso estado, mas do próprio regimento federativo”. (do telegrama do leader interino gaúcho, Deputado Lindholpho Collor, ao Presidente João Pessoa. A União. João Pessoa, 22 de Julho de 1930. In: MELLO, José O. de Arruda. A revolução estatizada. João Pessoa: ed. Universitária, 1992, p. 391). A primeira página da União de 22 de Julho de 1930, reproduzia a frase acima retirada do telegrama de apoio do Deputado gaúcho Lindholpho Collor ao Presidente da Paraíba, João pessoa. A publicação desse trecho do telegrama no jornal oficial do estado demonstra:
I. O controle político do presidente do estado sobre a im prensa oficial.
II. O isolamento de João Pessoa e dos setores que ele representava na política nacional.
III. A integração entre as elites regionais brasileiras que se opunham ao governo Washington Luís.
IV. O controle do Deputado Lindholpho Collor sobre a imprensa oficial do estado da Paraíba.
Das informações acima são corretas apenas:
a) I e II.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I e IV.
e) II e III.
RESPOSTA - B

05. (UFPB) O texto abaixo trata sobre o Presidente João Pessoa na revolução de 1930. leia, interprete e analise as proposições seguintes: “Seu posicionamento na revolução de 30 é epidérmico, pois, tanto ele como Antonio Carlos, para não falarmos de uma centena de outros aderentes da aliança liberal, não passam de elementos conservadores, pertencentes as oligarquias estaduais, ligadas ao establishment. As articulações revolucionárias contra Washington Luís normalmente são feitas sem o seu conhecimento, por pessoas que o antecedem em conspiração; ponderável é o fato do qual participa involuntariamente: seu assassinato e sua repercussão”. (CARONE, Edgar. Objetividade histórica em torno de um fenômeno apologético. In Horizonte – revista trimestral da UFPB. V.1 – Julho/Agosto de 1976. João Pessoa.)
Assinale a incorreta:
a) O governo João Pessoa caracteriza-se por uma tentativa de organização da máquina administrativa do estado.
b) O governo João Pessoa não foi um rompimento com os governos oligárquicos.
c) O assassinato de João Pessoa serviu como fato aglutinador das forças que defendiam a tomada do poder através da luta armada.
d) O governo de João Pessoa uniu todas as classes sociais na Paraíba.
e) A revolta de Princesa, em 1930, foi a demonstração da insatisfação dos chefes políticos do sertão com o governo João Pessoa.
RESPOSTA - D

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Feudalismo - Material de apoio

O FEUDALISMO
01. O Processo de formação
· O feudalismo foi o sistema econômico, político, social e cultural que marcou a Europa ocidental durante o período da idade média. Seu processo de formação esteve ligado a decadência do antigo império romano, mais precisamente nos séculos IV e V d.C., quando as áreas formadoras do Império romano do ocidente (a Europa ocidental) foram invadidas pelos bárbaros germanos. Assim, o feudalismo se formou a partir do momento em que houve a fusão entre o modo de vida dos romanos e as tradições praticada pelos bárbaros germanos. Portanto, para melhor compreensão desta formação, torna-se necessário conhecer as contribuições que romanos e germanos deram para o surgimento do sistema feudal.

Contribuições dos Romanos
- Colonato: Sistema de arrendamento da terra implantado no interior da crise do escravismo romano. O colono ocupava um pedaço de terra pertencente a um grande proprietário rural, entando preso a terra (não podia sair nem ser expulso). Em troca dom direito de produzir o fundamental para a sua sobrevivência e de sua família, pagava impostos aos grandes proprietários rurais sob as formas de produto (tirado da agricultura) e serviços diversos, mas era considerado juridicamente livre. originou a servidão medieval.
- Clientela: Vínculos de dependência pessoal entre os indivíduos. Todas as relações sócias do feudalismo envolvem a dependência pessoal homem-homem.
- Cristianismo: de crença perseguida pelos romanos, transformou-se, a partir do edito de Tessalônica, (392 d.C.), em religião oficial do Estado romano que foi aumentando o seu poder graças às doações de terras devolutas ou particulares. A igreja católica foi à instituição mais poderosa da idade média, maior proprietária de terras e formuladora do pensamento que justificava as relações sociais de exploração e dominação do feudalismo.

Contribuições dos Germanos
- Comitatus: costume germano que previa a distribuição das terras por um chefe a seus guerreiros, em troca de lealdade. Originou as relações de suserania e vassalagem típicas do sistema feudal.
- Direito consuetudinário: assim como o direito germano, o direito medieval baseou-se nas tradições e costumes geralmente impostos pelos senhores feudais.
- Ruralização: as invasões bárbaras aceleraram o êxodo urbano já em curso. A população das cidades, sentindo-se insegura, fugia para o campo em busca da proteção dos grandes proprietários rurais concentrados nas vilas (o equivalente a feudos na idade média).
- Fragmentação política: o processo de penetração dos bárbaros no império romano ocidental foi gerando a fragmentação de um território antes unificado pelo poder do imperador romano.

· Expansão árabe (século VII e VIII d.C.): Ao dominarem o eixo de comércio representado pelo mar mediterrâneo, contribuíram para a retração comercial que caracterizou a Europa ocidental na alta idade média.

02. Características do sistema feudal:
Economia:
· Conceito: Agrária (agricultura e pecuária, atividades principais), rural (maior produção de riquezas no campo), auto-suficiente (produção destinada ao consumo do feudo), baixa produtividade (ligada as técnicas de produção obsoletas e ao fato do servo não se sentir estimulado a produzir mais), pouco comercial (baixa circulação de mercadorias) e pouco monetária (baixa circulação de moedas).
· Unidade de produção – FEUDO - DIVISÃO: Manso senhorial (parte das terras cuja produção era totalmente destinada ao senhor feudal), manso servil (produção dividida entre senhor e servo) e manso comunal (terras e equipamentos de uso comum, devendo o servo, quando fizesse o seu uso, pagar imposto ao senhor feudal).
· Avanço técnico: sistema de três campos (alternância de culturas e repouso da terra).
· Exploração da mão de obra: OBRIGAÇÕES SERVIS: talha (metade da produção do manso servil o servo entregava ao senhor feudal), corvéia (trabalho gratuito dos servos nas terras do manso senhorial), banalidades (taxas diversas), capitação (Imposto por habitante do feudo), dizimo (pago a Igreja).

Sociedade:
· Relações sociais baseadas nos laços dependência pessoal homem-homem:
- Vassálicas: Relações horizontais que só ocorriam entre senhores feudais. Envolviam:
SUSERANO: Realizava um beneficium (doação der terras) a um vassalo em troca de lealdade. (ajuda militar e jurídica ao vassalo).
VASSALO: Recebia a terra e prestava um juramento de fidelidade ao seu suserano. (ajuda militar e econômica ao suserano).
- Comunitárias: Relação horizontal de auxílio mútuo entre servos.
- Servis: Relação social vertical de exploração do senhor feudal sobre o servo (os impostos que o servo pagava).
· Sociedade Estamental:
- Ausência mobilidade social: hereditariedade e vitaliciedade sociais.
- Critério de status: propriedade da terra. Proprietários (nobreza e alto clero) e não proprietários (servos e vilões).

Política:
· Características:
- Localismo: poder concentrado na esfera do feudo; EXERCIDO PELO SENHOR FEUDAL.
- Universalismo: grande influência política da igreja católica; EXERCIDO EM TODOS OS LOCAIS ONDE A IGREJA POSSUÍA TERRAS.
- Importância das relações de suserania e vassalagem: reforçavam os laços de aliança entre os senhores feudais.

Cultura:
· Papel da Igreja católica:
- Justifica as relações sociais de exploração do sistema feudal.
- Monopólio da produção e transmissão do conhecimento.
· Justificativas:
- Teocentrismo: tudo acontece na terra por vontade de Deus, inclusive a miséria dos servos.
- Sociedade tripartite (dividida em três): três grupos sociais onde cada grupo cumpria sua função: Servos (trabalham), Clero (rezavam) e Nobreza (lutavam). Tentava passar a idéia de que a sociedade feudal não tinha conflitos porque todos trabalhavam em prol da coletividade.

domingo, 2 de agosto de 2009

A expansão Imperialista do século XIX

Turmas:
Segundo Ano - Colégio Padrão, Mossoró.
Terceiros Anos - Colégio Padrão, Mossoró.

A Expansão Imperialista do século XIX
Definição de imperialismo
O Imperialismo do século XIX foi uma política de expansão e domínio territorial, cultural, econômico e político de nações capitalistas que vivenciavam a segunda revolução industrial. Está política deve ser entendida também como impositora de novas formas de colonização – daí a expressão neocolonialismo – que foi além do colonialismo praticado dos séculos XV a XVIII, época do Antigo regime.
“Essa expansão deu inicio a chamada fase imperialista do capitalismo, da qual participaria a maioria das nações industrializadas. Uma das formas adotadas pelo imperialismo nessa expansão foi a partilha da áfrica e da Ásia, a criação de áreas de influencia em diversas regiões do planeta e a formação de novos impérios coloniais. A essa forma especifica de dominação imperialista se deu o nome de neocolonialismo”. (PAZZINATO, Alceu L. & SENISE, Maria Helena V. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Ática, 2002, p. 226).

Imperialismo: a supremacia inglesa na Era Vitoriana
A indiscutível supremacia da Inglaterra – na Europa do século XIX atingiu seu apogeu entre 1850 e 1875. O país, que havia iniciado sua Revolução Industrial mais de cem anos antes, colocou-se quase um século na frente dos demais Estados europeus. Somente na segunda metade do século XIX foi que França, Itália e Alemanha começaram a avançar, mas não o suficiente para abalar a hegemonia inglesa.
A Inglaterra enviava homens, capitais, car­vão, tecidos e máquinas para o mundo inteiro. A supremacia naval completava a supremacia econômica. As camadas médias prosperavam, e seu papel político ganhava importância. Londres era a maior cidade do mundo, e o Parlamentarismo, um regime político estável, maleável para que as reformas se antecipassem às necessidades sociais. Assim, a Inglaterra evitou as agitações que assolaram a Europa dos fins do século XVIII ao século XIX.
A união de desenvolvimento econômico com progresso social e estabilidade política criou condições para a formação de um vasto império colonial na América, África e Ásia.
A dinastia Hannover, surgida no início do século XVIII, teve na rainha Vitória (1837-1901) o grande símbolo da virtude e da perseverança inglesas. Ela governou o país durante o período de supremacia britânica, por isso mesmo chamado de Era Vitoriana.

Os Motivos da expansão imperialista
As mudanças tecnológicas que caracterizaram a Segunda Revolução Industrial (motores a gasolina, diesel e eletricidade, produção de aço em larga escala) aumentaram ainda mais a produção, gerando uma grande necessidade de mercados consumidores para os excedentes industriais. Além disso, as potencias centrais do capitalismo, precisavam encontrar fontes de matérias-primas (carvão, ferro, petróleo) e de produtos alimentícios que faltavam em suas terras. Também buscavam novas regiões para investir os capitais disponíveis, construindo ferrovias ou explorando minas, por exemplo.
Tal mecanismo era indispensável para aliviar a Europa dos capitais excedentes. Se eles fossem investidos na Europa, agravariam a superprodução e intensificariam a tendência dos países europeus industrializados de adotar medidas protecionistas, fechando seus mercados e tornando a situação ainda mais difícil. Some-se a tudo isso o crescimento acelerado da população européia, necessitada de novas terras para estabelecer-se. No plano político cada Estado europeu estava preocupado em aumentar seus contingentes militares, para fortalecer sua posição entre as demais potências. Possuindo colônias, disporiam de mais recursos e mais homens para seus exércitos. Tal era a política de revanche, característica da França, que buscava compensar as perdas na Europa, especialmente a Alsácia-Lorena, para os alemães. Ter colônias significava ter portos de escala e abastecimento de carvão para os navios mercantes e militares distribuídos pelo planeta.
Já a ação dos missionários religiosos, típica da segunda metade do século XIX, se encaixava em um discurso religioso e cultural que justificava o imperialismo. Eles desejavam converter africanos e asiáticos. Havia gente que considerava mesmo um dever dos europeus espalhar sua civilização entre povos que julgavam primitivos, atrasados e inferiores. Na realidade, além do olhar etnocêntrico e preconceituoso, esse discurso era o pretexto para justificar a colonização e espoliação das áreas dominadas. Foi nesse contexto que assumiu importância um movimento intelectual e pseudo-científico. O desenvolvimento de ideologias racistas que, partindo das teorias de Darwin, afirmavam a superioridade da raça branca: o etnocentrismo, baseado na idéia de que existiam povos superiores a outros (europeus superiores a asiáticos, indígenas e africanos). O darwinismo social interpretava a teoria da evolução a sua maneira errônea, afirmando a hegemonia de alguns sobre outros pela seleção natural. Assim, além de fenômeno político-econômico, o imperialismo teve profunda influência na cultura de sua época. Um exemplo disso foi o poema a “carga do homem branco”, escrito pelo poeta inglês, Rudyard Kipling (1865-1936):
“Tomai o fardo do Homem Branco –
Envia teus melhores filhos
Vão, condenem seus filhos ao exílio
Para servirem aos seus cativos;
Para esperar, com arreios
Com agitadores e selváticos
Seus cativos, servos obstinados,
Metade demônio, metade criança.

Tomai o fardo do Homem Branco –
Continua pacientemente
Encubra-se o terror ameaçador
E veja o espetáculo do orgulho;
Pela fala suave e simples
Explicando centenas de vezes
Procura outro lucro

E outro ganho do trabalho.

Tomai o fardo do Homem Branco –
As guerras selvagens pela paz –
Encha a boca dos Famintos,
E proclama, das doenças, o cessar;
E quando seu objetivo estiver perto
(O fim que todos procuram)
Olha a indolência e loucura pagã
Levando sua esperança ao chão.
Tomai o fardo do Homem Branco –
Sem a mão-de-ferro dos reis,
Mas, sim, servir e limpar –
A história dos comuns.
As portas que não deves entrar
As estradas que não deves passar
Vá, construa-as com a sua vida
E marque-as com a sua morte.

Tomai o fardo do homem branco –
E colha sua antiga recompensa –
A culpa de que farias melhor
O ódio daqueles que você guarda
O grito dos reféns que você ouve
(Ah, devagar!) em direção à luz:
"Porque nos trouxeste da servidão
Nossa amada noite no Egito?"
Tomai o fardo do homem branco –
Vós, não tenteis impedir –
Não clamem alto pela Liberdade
Para esconderem sua fadiga
Porque tudo que desejem ou sussurrem,
Porque serão levados ou farão,
Os povos silenciosos e calados
Seu Deus e tu, medirão.
Tomai o fardo do Homem Branco!
Acabaram-se seus dias de criança
O louro suave e ofertado
O louvor fácil e glorioso
Venha agora, procura sua virilidade
Através de todos os anos ingratos,
Frios, afiados com a sabedoria amada
O julgamento de sua nobreza”.

Assim, sob o pretexto de civilizar, no final do século XIX e começo do XX, os países imperialistas se lançaram numa corrida pela conquista global, o que desencadeou rivalidades entre os mesmos e começou a desenhar a conjuntura da Primeira Guerra Mundial. Uma “nova era imperialista” estava a caminho e nesta era os EUA se tornam o país dominante. No dizer de Eric Hobsbabwm, “A repartição do mundo entre um pequeno numero de Estados foi a expressão mais espetacular que já observamos da crescente divisão do planeta em fortes e fracos, ‘avançados’ e ‘atrasados’. Foi também notavelmente nova. Entre 1876 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia dúzia de Estados. A Inglaterra aumentou seus territórios em cerca de 10 milhões de quilômetros quadrados; a França, em cerca de nove; a Alemanha conquistou mais de dois milhões e meio; a Bélgica e a Itália, pouco menos que essa extensão cada uma. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha; o Japão, algo em torno da mesma quantidade, à custa da China, da Rússia e da Coréia. As antigas colônias africanas de Portugal foram ampliadas em 750 mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora liquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara ocidental. Dentre os Impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis, adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle efetivo às ilhas indonésias, que há muito ‘possuía’ formalmente”. (HOBSBABWM, Eric. A era dos impérios. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988. P. 91).

Características da expansão Imperialista do século XIX:
· Concentração de capitais: Capital industrial + Capital financeiro = associações monopolistas (Holdings, trustes e cartéis) – CAPITALISMO INDUSTRIAL E FINANCEIRO.
· Formas da dominação imperialista:
a) Dominação direta: Ocupação dos cargos governamentais por agentes metropolitanos (colônia), ocupação militar.
b) Dominação indireta (protetorado): Alianças com as elites coloniais, aparente independência política com profunda subordinação econômica.

A Partilha Imperialista
A partilha imperialista dos mercados periféricos pelas potências capitalistas se deu em três momentos. O primeiro foi a partilha da África, consolidada pela Conferência de Berlim de 1885. Nesta cúpula das potências européias, se desenhou, artificialmente, as fronteiras entre os países africanos segundo o princípio do “dividir para conquistar”, isto é, etnias distintas e rivais foram colocadas num mesmo território de modo a acirrar suas rivalidades e gerar conflitos entre elas. As conseqüências desta política são sentidas até os dias atuais nas violentas e brutais guerras étnico-religiosas que pululam em todo o continente africano.



















Seguindo as palavras do historiador Burns, “Uma Conferência, convocada em Berlim, no ano de 1885 e a qual compareceram representantes da maioria das nações européias e dos Estados Unidos, procurou estabelecer certas regras básicas para o jogo da aquisição imperialista. O Congo foi declarado Estado livre, sob tutela de Leopoldo II (o primeiro desse artifício, que depois se tornaria comum, de proteger povos “atrasados”). Uma nação européia que tivesse possessões na costa africana teria direitos de prioridade a territórios no interior, atrás dessas que era chamado ‘ocupação real’ – ou seja, a presença de administradores ou de tropas. A corrida havia começado! A ocupação era acompanhada pela exploração de trabalhadores nativos. Os acordos feitos com os chefes locais, adulados pelos europeus, autorizavam o emprego de homens e mulheres em condições pouco melhores que a escravidão. Forçados com freqüência a viver separados das famílias, os africanos sucumbiam a um sistema que erradicava os antigos costumes sem substituí-los por nada que se assemelhasse a uma nova civilização”. (BURNS, op. cit. p. 618).
O segundo momento foi a partilha da Ásia (os maiores mercados do mundo). Este processo foi mais demorado e envolveu também potências não européias, como os EUA, a Rússia e o Japão. O primeiro mercado colocado sob controle imperialista das potências capitalistas foi o Sudeste Asiático ainda no século XVIII, após a Guerra dos Sete Anos (1756-63), entre a Inglaterra e a França: ao final, após a derrota francesa, os ingleses assumiram o controle da Índia enquanto os franceses ficaram com a Indochina.
Depois foi a vez da China, submetida em meados do século XIX, após a Guerra do Ópio de 1842. Este conflito, que reuniu a maioria das potencias ocidentais, os EUA, a Rússia e o Japão com o Império Chinês, que capitulou. Foi, então, forçado a abrir seus portos às potências imperialistas, em alguns casos sob controle militar e territorial direto, como o foi o caso de Hong Kong, pelos ingleses.
“Durante muito tempo, a China permaneceu fechada a qualquer influência de outras regiões, sobretudo do ocidente, procurando preservar intacta sua cultura milenar. Até o século XIX, por exemplo, apenas o porto de Cantão estava autorizado a comerciar com o ocidente. Porém, em virtude de suas dimensões continentais, o país era cobiçado pelas nações européias, que aguardavam apenas uma oportunidade para estender seu domínio sobre a região.
Tentando criar essa oportunidade, comerciantes ingleses se dedicavam ao tráfico de uma droga muito consumida pelos chineses: o ópio. A droga sai de Bengala, na Índia, e era introduzida ilegalmente na China, afrontando decisões do governo chinês, que havia proibido sua entrada no país. Para coibir a atividade, a partir de 1839 as autoridades chinesas passaram a apreender e destruir os carregamentos de ópio.
A medida serviu de pretexto para que os ingleses deflagrassem a guerra do ópio (1839-1842). O confronto teve conseqüências desastrosas para a China, que foi obrigada, entre outras exigências, a ceder a ilha de Hong Kong, abrir cinco portos ao comercio exterior e pagar uma indenização de guerra aos ingleses. Mais tarde, o país seria submetido a novas humilhações pela Inglaterra, que provocou duas outras guerras do ópio, em 1856 e 1858. Depois de cada conflito, a China era obrigada a pagar novas indenizações e a abrir outros portos ao comércio inglês. Alguns anos mais tarde, sobreveio a guerra Sino-Japonesa (1894-1895), na qual o país perdeu a Coréia e a ilha de Formosa para o Japão. O pior, entretanto, ainda estava por vir.
A expansão do Japão contrariou os interesses das potencias ocidentais. Alegando que a China era incapaz de se defender, essas nações passaram a competir por concessões territoriais e privilégios econômicos do país. A partir de 1895, a China foi dividida em zonas de influências. Em cada uma delas, uma potência assumiu o direito de comerciar e fazer investimentos, além de contar com a garantia de que a área não seria alienada em favor de outro Estado”. (FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. São Paulo: Ática, 2007, p. 257).
Ocorreu ainda a partilha dos mercados petrolíferos do Oriente Médio após a Primeira Guerra Mundial. Em 1920, o Tratado de Belfour estabeleceu as bases da atual divisão territorial da região e a tripla hegemonia dos EUA, Inglaterra e França.
O terceiro momento diz respeito aos mercados da América Latina. A maioria dos países latino-americanos eram ex-colônias das coroas ibéricas e tornaram-se independentes politicamente no início do século XIX. A emancipação política, entretanto, não implicou em transformações profundas nas estruturas sociais e econômicas das novas nações. Pelo contrário, a dependência econômica se aprofundou tanto em relação à Inglaterra como aos EUA.
Em vários momentos os povos dominados reagiram ao domínio imperialista promovendo levantes e revoltas contra as potências industriais dominantes. Estes foram os casos da Revolta dos Cipaios de 1857, na Índia, quando soldados indianos integrantes do Exército inglês (os Cipaios) se sublevaram e foram massacrados. Na China, também ocorreram vários levantes; os maiores foram o Levante de Taiping de 1857 e a Guerra dos Boxers de 1902, quando parte da população chinesa reage ao domínio anglo-ocidental e à difusão dos valores culturais ocidentais.
Outro levante importante ocorreu na África do Sul, mas este protagonizado pelos holandeses sul-africanos (Bôeres) contra o avanço imperialista inglês na região, após a descoberta de minas de diamantes e outros minérios. Esta disputa ficou conhecida pelo nome de Guerra dos Bôeres de 1900. Devemos também destacar o crescente fundamentalismo islâmico nos países do Oriente Médio, cujas manifestações mais recentes têm sido os constantes atentados terroristas, em várias partes do mundo, contra “alvos ocidentais”, principalmente, norte-americanos, ingleses e israelitas.
“Nenhum outro aspecto foi tão significativo para o curso da História do século XX como a revolta contra o colonialismo, cuja expansão atingiu seu apogeu no final do século XIX. O impacto dessa reação foi tão poderoso justamente por ter sido tão inesperado. No limiar do século XX, a hegemonia mundial da Europa parecia incontestável. (...) Isso não significa, porém, que o avanço europeu não tenha encontrado resistência. Os franceses tiveram de enfrentar prolongada luta contra os senussi, após ocuparem a Tunísia (no Norte da África), em 1881. As forças expedicionárias italianas vindas da Eritréia (na margem africana do Mar Vermelho) foram derrotadas pelos etíopes, em 1887 e 1896.
Os britânicos sofreram repetidos reveses no Sudão (ao sul do Egito). (...) O povo herero, no sudoeste africano, resistiu obstinadamente ao domínio alemão, com uma grande insurreição em 1904. Os britânicos tiveram de enfrentar resistência aos ashantis, dos matabeles, dos zulus, e de outras tribos africanas. (...)
A força e a extensão de todos esses movimentos de resistência foram constantemente subestimadas. Certamente elas exprimiam um sentimento nacional autêntico, ainda que pouco elaborado. Mas esse nacionalismo – embora verdadeiro e sentido em profundidade – raramente resultou em algo mais que uma explosão negativa de rancor e desespero. (...) O fanatismo não tinha nenhuma eficácia contra os armamentos modernos, e a tentativa de desalojar os odiados europeus pela força foi apenas um ato desesperado. Os incipientes movimentos nacionalistas da Ásia e da África só progrediram quando deixaram de lado o sonho de restauração do passado e se voltaram para uma nova direção, encarando o futuro.”. (BARRACIOUGH, Geoffrey. O Imperialismo e a reação nacionalista. In História do Século XX: 1900-1914. São Paulo, Abril cultural, 1973. P. 287).

Rumo a primeira grande guerra
Ao assumir a forma imperialista, o capitalismo europeu (e norte-americano) conseguiu resolver o problema da existência de excedentes de capital, que passaram a ser reinvestidos na África, Ásia e América latina. Mas gerou, ao mesmo tempo, um estado de tensão permanentemente entre as potencias, dada a repartição desigual das zonas de influencia – A Alemanha e a Itália, particularmente, não ficaram satisfeitas com parte que lhes coube na divisão.
Essas tensões provocariam rupturas no equilíbrio europeu, desencadeando entre as potências européias uma desesperada corrida armamentista que levou à chamada paz armada. O resultado desse processo seria a eclosão, em 1914, da primeira guerra mundial.