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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A ASCENSÃO DO TOTALITARISMO

A ascensão do totalitarismo (1922 – 1938)
No período Entre guerras proliferaram os regimes totalitários, governos militarizados, que baseavam seu poder na força das armas e da propaganda política. São considerados por muitos historiadores como reações nacionalistas extremadas as perdas que alguns países sofreram ao fim da primeira guerra mundial.
Os efeitos da Primeira Guerra Mundial e da crise econômica que se abateu sobre a Europa, por toda a década de 1920, geraram uma insegurança quanto ao futuro de muitos países. O desemprego em massa, a constante alta do custo de vida e as dificuldades em solucionar essas questões criaram uma descrença no Liberalismo e nos valores democráticos.
Por outro lado, havia o exemplo da Rússia, que aparentava manter-se protegida da crise que assolava o restante da Europa. A revolução proletária parecia ter dado certo, não se falava de desemprego e de carestia no Estado socialista. Era natural que uma grande parte da classe trabalhadora chegasse à conclusão de que a solução definitiva para seus problemas era o processo revolucionário. Por isso, em alguns países, sobretudo na Itália e na Alemanha, as teses socialistas ganhavam cada vez mais adeptos.
A crise econômica sem perspectiva de soluções combinada com o desgaste dos regimes parlamentaristas, aliadas à expansão do Socialismo, assustou a burguesia, que acabou buscando nos movimentos nazi-fascistas o apoio que lhe garantiria a manutenção da propriedade privada e a repressão aos que pensavam em acabar com seus privilégios, sobretudo os grupos políticos de esquerda.




Princípios do Totalitarismo Nazi-Fascista
· Valorização do Estado (totalitarismo). Ancorados no pressuposto de que nada deve existir acima do Estado, fora dele ou contra ele, os nazistas e fascistas depositavam os destinos da nação nas mãos do Estado e o governante acabava por encarnar o Estado.
· O autoritarismo, regime político em que é postulado o princípio da autoridade que é aplicada com freqüência em detrimento das liberdades individuais. Pode ser definido como um comportamento em que uma instituição ou pessoa se excede no exercício da autoridade de que lhe foi investida. Na Alemanha nazista e na Itália fascista estava relacionada a autoridade suprema de seus líderes, o Duce (italiano), Benito Mussolini, e o Führer (alemão), Adolf Hitler.
· Supervalorização da nação em detrimento do individuo (nacionalismo), baseado no principio de que a organização nacional é a mais alta forma de corporificação da sociedade.
· Xenofobia. Conduzido ao extremo, chegou, na Alemanha, a idéia de superioridade da raça ariana e a prática da solução final contra judeus (Antissemitismo) e outros grupos considerados inferiores.
· Militarismo. Pregava a “função regeneradora da guerra”, na solução dos problemas econômicos e sociais.
· Anticomunismo. O comunismo marxista foi identificado como principal inimigo do totalitarismo de direita. Os fascistas e nazistas afirmavam que o comunismo promovia a desunião e enfraquecimento nacional já que estava fundamentado na idéia de luta de classes.
· Corporativismo: Peculiaridade do totalitarismo italiano. O povo, produtor de riquezas, organizava-se em corporações sindicais, que governavam o pais através do partido fascista, que era o próprio Estado. Negava-se a existência da oposição entre classes porque cabia ao Estado harmonizar os interesses sociais.
Um dos mais conhecidos lemas do Nazi-Fascismo – Acredita! Obedece! Luta! -, resume os princípios fundamentais dessa doutrina. Acreditar nos pressupostos da doutrina. Obedecer cegamente ao líder. Lutar contra os adversários da doutrina.
É preciso refletir sobre o apoio da população de países como Alemanha e Itália aos princípios nazi-fascistas. Havia forças muito significativas trabalhando contra a liberdade. Em primeiro lugar, grande parte da população da Europa vivia um período de incertezas: as lideranças nazi-fascistas, habilmente, prometiam um futuro de gloria e de riqueza (Na versão nazista o III Reich; na versão fascista o resgate da glória do antigo Império Romano) e a destruição daqueles que “eram os responsáveis pelo sofrimento”, identificados como comunistas, democratas, judeus, homossexuais, ciganos, poloneses, eslavos e outras “minorias”. Ao refletir sobre esta questão o escritor Goldhagen escreveu:
“A revolução nazista alemã, assim como todas as revoluções, teve duas forças propulsoras fundamentais: um empreendimento destrutivo – uma completa revolta contra a civilização – e um empreendimento construtivo – uma tentativa singular de construir um homem novo, um corpo social novo e uma nova e nazificada ordem na Europa e além. Foi uma revolução incomum, que, internamente, era realizada - apesar da repressão à esquerda nos primeiros anos - sem coerção e violência maciças. Essa revolução significava em primeiro lugar a transformação das consciências - inculcar um novo etos [costumes, hábitos, comportamentos] nos alemães. Em sua maior parte, foi uma revolução pacífica, voluntariamente aceita pelo povo alemão. Dentro de casa, a revolução nazista germânica foi, como um todo, consensual”. (GOLDHAGEN, Daniel Jonah. Os carrascos voluntários de Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 486).
Ao lado dessa promessa de futuro grandioso, havia uma intensa propaganda que tinha o objetivo de seduzir as mentes mais resistentes. Eram constantes as demonstrações do poderio militar, a mistificação do líder, a criação de valores que engrandeciam a figura dos militares em relação ao restante da sociedade. Essas peças de propaganda não eram casuais, havia uma elaboração muito bem pensada, discutida pelo alto escalão dos partidos e aplicada de acordo com os mais modernos princípios da comunicação em massa da época. “Joseph Goebbels foi o porta-voz do nazismo e utilizou-se do rádio, do cinema, do teatro e da literatura para divulgar a sua convicção totalitária e fidelidade a Hitler. ‘Bem educado e muito inteligente, foi um grande mestre na arte de influenciar as massas, um demagogo nato e um tático astucioso na política do poder. Ninguém como ele foi capaz de usar com tamanha audácia a mentira como instrumento político. Até hoje os especialistas no assunto não conseguem concordar a respeito de qual dos dois – Hitler ou Goebbels – foi o melhor orador. Goebbels, ao contrário de Hitler, permanecia totalmente frio, mesmo nos comícios mais intoxicantes. Nunca foi muito popular. Incapaz de controlar sua língua, quase não tinha amigos. Mas o pequeno Schrumpfgermane (o “alemão escolhido”) sabia como conquistar respeito.”. (JANSSEN, K. H. Hitler e seus adeptos. In: Século XX, p.1432).
O totalitarismo de direita se expandiu porque encontrou uma conjuntura social favorável; o discurso nazi-fascista proferia o que as pessoas queriam ouvir e o Estado oferecia apoio aos que se encontravam abandonados pelo poder publico.

O Estado Fascista Italiano
Em meio a crise que se abateu sobre a Itália após a Primeira Guerra Mundial, as forças políticas se polarizaram. As classes trabalhadoras, embaladas nas teses comunistas, se organizavam e promoviam greves e manifestações públicas contra o Estado, uma monarquia parlamentar desmoralizada ao fim da primeira guerra mundial.
Foi então que ganhou destaque o Partido Fascista, fundado em 1919 por Benito Mussolini e a milícia paramilitar do partido, os camisas negras. Criado a partir da propaganda anticomunista, da defesa da pátria e da propriedade privada, o Partido Fascista ganhou a simpatia e o apoio financeiro da burguesia italiana.
Diante das dificuldades da policia em reprimir as manifestações populares, as elites passaram a usar a milícia fascista contra os trabalhadores. Em 1922, em meio a uma onda de greves, os fascistas perceberam que essa era a conjuntura ideal para tomar o poder. Sob alegação de que pretendiam restaurar a ordem pública cinqüenta mil camisas negras se deslocaram para a capital italiana e realizaram o que ficou conhecido como Marcha sobre Roma. Além de reprimir a população que estava nas ruas, os fascistas exigiram o controle do poder ao Rei Vitor Emanuel III. O governo não teve como reagir àquela força que cresceu e se armou sob o beneplácito das elites e do Estado e o monarca convocou Mussolini para organizar o gabinete ministerial.
Depois do assalto ao poder, os fascistas trataram de eliminar seus opositores. O Líder socialista Mateotti foi assassinado e, em 1925, o governo totalitário foi integralmente constituído. Mussolini foi aclamado Duce, o condutor supremo da nação, com o apoio da Confederação Geral das Indústrias.
O governo fascista tratou de recuperar a economia incentivando a produção agrícola e industrial. Em 1929, ganhou o apoio da igreja Católica ao assinar o Tratado de Latrão, que reconhecia a soberania do Estado católico do Vaticano. Na década de 1930, para superar os prejuízos causados pela crise de 1929, incentivou a indústria bélica, e a propaganda fascista passou a proclamar os benefícios da guerra. A Itália se preparava para a Segunda Guerra Mundial.

A Revolução Espanhola (1936-1939)
Também conhecida como Guerra Civil Espanhola, o conflito ocorrido na Espanha entre 1036 e 1939 pode ser considerado como parte da expansão nazi-fascista pelo continente europeu.
Uma ampla frente popular, formada por anarquistas, sindicalistas, democratas e comunistas, venceu os partidos conservadores nas eleições de 1935. Foi formado um governo de lideranças socialista que adotou, como uma de suas primeiras medidas, a retomada do projeto de reforma agrária que já havia sido aprovado em 1931.
As propostas socialistas do novo governo e a pressão popular exigindo o aprofundamento das reformas do Estado levaram os reacionários à formação de uma coligação que foi denominada Partido da Falange. Nele estavam agrupados membros da elite agrária, o alto clero e o exército. O partido adotava os pressupostos fascistas e seu líder era o General Francisco Franco, que recebeu ajuda militar e financeira dos governos totalitários da Alemanha e da Itália.
Colocaram-se contra a Falange, na defesa da Republica, as forças democráticas da Espanha, os grupos políticos representados no governo, os bascos e catalães, as milícias populares nacionais e as Brigadas Internacionais, que eram grupos de militantes de esquerda de vários países, incluído o Brasil, que voluntariamente se apresentavam para lutar ao lado das forças republicanas.
No dia 18 de julho de 1936, os militares alinhados na Falange iniciaram uma sublevação que foi o estopim do confronto entre as duas forças antagônicas da sociedade espanhola. A guerra durou três anos e foi uma das mais cruentas do século XX. Os nazistas, que estavam se preparando militarmente para um novo confronto com a Inglaterra, aproveitaram a guerra espanhola para testar suas novas armas, que matavam indiscriminadamente soldados e população civil.
As brigadas internacionais e as milícias nacionais resistiram bravamente ate 1939, mas o poderio militar que os nazistas colocaram nas mãos dos exércitos falangistas era, naquela época, imbatível. As forças republicanas foram derrotadas e Franco impôs aos espanhóis um governo totalitário de cunho fascista que durou ate 1975, ano da morte do ditador.
O Estado totalitário espanhol tinha algumas características específicas como a submissão do Estado às Forças Armadas, o excessivo clericalismo, o incentivo às atividades agrícolas e o desinteresse pela expansão territorial.

A Ditadura em Portugal
O Estado totalitário em Portugal foi organizado por Antônio de Oliveira Salazar, que foi conduzido ao poder pelos militares em 1928. Salazar era um político católico adversário dos republicanos, que teve como principais grupos de apoio a Igreja, o exército, os latifundiários e os capitalistas ligados à indústria.
O ditador português criou um aparato jurídico-administrativo copiado do modelo italiano, que lhe garantia poderes excepcionais. A legislação proibia as greves, as eleições livres, a formação de partidos políticos e os sindicatos livres. Era um regime de partido único e que usava a policia política (PIDE) para perseguir e punir os opositores do governo.
A ditadura instituída por Salazar sobreviveu à sua morte, em 1968. A Revolução dos Cravos, ocorrida em 1974, com a participação de vários segmentos da sociedade portuguesa, derrubou o governo totalitário, que já estava perto de completar meio século, e instituiu um governo democrático.

O Estado Nazista Alemão
As sanções impostas pelo Tratado de Versalhes mergulharam a economia alemã em uma crise sem paralelo no período. O fim da guerra significou também o fim do poder do Kaiser e a criação da Republica de Weimar (1918-1933), de orientação social-democrata. A nova República não teve meios de recuperar a economia por causa da evasão de divisas provocada pelo pagamento das multas exigidas pelos países vencedores da guerra. Além disso, teve de enfrentar muitas greves e conflitos sociais, e precisou combater opositores de direita e de esquerda.
No começo da década de 1920, a Alemanha entrou em um processo inflacionário que inviabilizou a sua vida econômica. A inflação chegou ao patamar absurdo de mais de 30 000% ao mês, em 1923.
O contexto de hiperinflação provocou uma severa concentração de rendas, o empobrecimento das classes media e a condenação das classes trabalhadoras à condição de miséria. De forma mais aguda do que em outros países em crise, a população alemã encontrava-se sem perspectivas de futuro: o governo de Weimar atuou mais nas repressões aos movimentos populares do que na busca de soluções para as dificuldades das classes pobres.
O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NAZI) foi fundado em 1919, com idéias semelhantes às do Partido Fascista, criado na Itália no mesmo ano. Em 1923, os nazistas, liderados pelo Marechal Landendorf e por Adolf Hitler, tentaram, sem sucesso, tomar o poder. A tentativa de golpe, que foi denominada Putsch de Munique, resultou na prisão de seus organizadores.
A crise de 1929 interrompeu o processo de recuperação econômica da Alemanha, que, desde 1924, tentava sair das dificuldades. Milhões de trabalhadores (44% da população) perderam seus empregos, o que gerou uma reativação das idéias socialistas e dos movimentos populares. Temendo a crise social, a burguesia e as camadas médias procuraram apoio nos partidos de direita, que combatiam o Comunismo e propunham um governo forte, capaz de reprimir qualquer revolta social
Nessa época, as milícias nazistas, as SA, que funcionavam como grupos paramilitares de oposição a esquerda, ganharam grande prestigio por sua ação contra os comunistas. O prestigio das SA fez do Partido Nazista e de seu líder uma das mais importantes forças políticas do começo da década de 1930. Por isso, em 1933, Hitler foi nomeado para o cargo de Chanceler, que correspondia a chefia do governo. De posse da Chancelaria, o líder nazista organizou uma série de golpes, como mandar incendiar o Parlamento (Reischtag) e acusar os comunistas do crime para justificar a instalação de um governo totalitário. Esses golpes tinham a função de permitir total liberdade de ação ao ditador.
Em 1933, Hitler, apoiado pela alta burguesia, assume o cargo de 1º ministro e inicia o processo de governo ditatorial e expansionista que levará o mundo à Segunda Guerra Mundial.
Os nazistas estruturam uma ditadura totalitária sustentada na força das armas; nas milícias especiais como as SA (seções de assalto), as SS (seções de segurança) e a Gestapo (Policia Política); na eficiência da propaganda; no apoio dos grupos conservadores da sociedade; e, destacadamente, na crescente militarização do Estado. Em 1935, o chefe dos nazistas adotou o titulo de Fuhrer e fundou o III Reich.


Texto complementar 01: Do “Mein Kampf” (Minha Luta).

“O objetivo da nossa luta deve ser o da garantia da existência e da multiplicação de nossa raça e do nosso povo, da subsistência de seus filhos e da pureza do sangue, da liberdade e independência da Pátria, a fim de que o povo germânico possa amadurecer para realizar a missão que o criador do universo a ele destinou.”. (Minha Luta, Primeira Parte, Capítulo VIII, Começo de minha atividade política.).

“O homem que desconhece e menospreza as leis raciais (...) impede a marcha triunfal da melhor das raças, com isso estreitando também a condição primordial de todo o progresso humano”.

“O que hoje se apresenta a nós em matéria de cultura humana, de resultados colhidos no terreno da arte, da ciência e da técnica, é quase que exclusivamente produto da criação do Ariano. É sobre tal fato, porém, que devemos apoiar a conclusão de ter sido ele o fundador exclusivo de uma humanidade superior.”. (Minha Luta, Primeira Parte, Capítulo XI, Povo e Raça.).

“(...) o Estado deve ter como seu mais alto objetivo a conservação e aperfeiçoamento da raça, base de todos os progressos culturais da humanidade.”. (Minha Luta, Segunda Parte, Capítulo II, O Estado). (HITLER, Adolf. Minha Luta. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1934. pp. 184-327.).

“(...) o judeu não é movido por outra coisa senão pelo egoísmo individual nu e cru (...) Por isso também é que o povo judeu, apesar de suas aparentes aptidões intelectuais, permanece sem nenhuma cultura verdadeira e, sobretudo, sem cultura própria. O que ele hoje apresenta, como pseudo-civilização, é o patrimônio de outros povos, já corrompidos nas suas mãos.”. (HITLER, Adolf. Minha Luta. Primeira Parte, Capítulo XI, Povo e Raça. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1934. p. 255.)
"Der ewige Jude" (“O eterno Judeu”; 1940), pôster do mais famoso filme anti-semita da propaganda nazista. Mostra os judeus da Polônia como corruptos, ladrões, preguiçosos, perversos e feios.

Texto Complementar 02: O Fascismo.
O Fascismo é em primeiro lugar um nacionalismo exacerbado. A nação, sagrada, é o bem supremo. O seu interesse exige uma tripla coesão interna, política, social e étnica, e exige também a supressão de qualquer dos antagonismos que a dividem e enfraquecem.
Para que a nação tenha a certeza de poder viver e prosperar, o Estado deve ser forte. A centralização suprimirá os particularismos regionais; o Estado fará prevalecer o interesse coletivo sobre os dos indivíduos, dos grupos profissionais ou das classes sociais. (...) O Estado será policial e a Justiça estará às suas ordens.
O Estado forte encarna-se num chefe, providencial, guia e salvador da nação, erguido da massa pelo impulso da sua personalidade; a sua palavra é a lei e é também a verdade. (MICHEL, Henri. Os Fascismos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. pp. 13-20.).

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